domingo, 28 de março de 2010
Traduzir-se
"Uma parte de mim é todo mundo:
outra parte é ninguém: fundo sem fundo.
Uma parte de mim é multidão:
outra parte estranheza e solidão.
Uma parte de mim pesa, pondera:
outra parte delira.
Uma parte de mim almoça e janta:
outra parte se espanta.
Uma parte de mim é permanente:
outra parte se sabe de repente.
Uma parte de mim é só vertigem:
outra parte, linguagem.
Traduzir uma parte na outra parte
— que é uma questão de vida ou morte
—será arte?"
Ferreira Gullar
outra parte é ninguém: fundo sem fundo.
Uma parte de mim é multidão:
outra parte estranheza e solidão.
Uma parte de mim pesa, pondera:
outra parte delira.
Uma parte de mim almoça e janta:
outra parte se espanta.
Uma parte de mim é permanente:
outra parte se sabe de repente.
Uma parte de mim é só vertigem:
outra parte, linguagem.
Traduzir uma parte na outra parte
— que é uma questão de vida ou morte
—será arte?"
Ferreira Gullar
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Ferreira Gullar
Canção Grata
"Por tudo o que me deste
inquietação cuidado
um pouco de ternura
é certo mas tão pouca
Noites de insônia
Pelas ruas como louca
Obrigada, obrigada
Por aquela tão doce
e tão breve ilusão
Embora nunca mais
Depois de que a vi desfeita
Eu volte a ser quem fui
Sem ironia aceita
A minha gratidão
Que bem que me faz agora
o mal que me fizeste
Mais forte e mais serena
E livre e descuidada
Sem ironia amor obrigada
Obrigada por tudo o que me deste
Por aquela tão doce
e tão breve ilusão
Embora nunca mais
Depois de que a vi desfeita
Eu volte a ser quem fui
Sem ironia aceita
A minha gratidão"
Florbela Espanca
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O Deus que Acredito
"Eu acredito em Deus.
Mas não sei se o Deus em que eu acredito é o mesmo Deus em que acredita o balconista, a professora, o porteiro.
O Deus em que acredito não foi globalizado.
O Deus com quem converso não é uma pessoa, não é pai de ninguém.
É uma idéia, uma energia, uma eminência.
Não tem rosto, portanto não tem barba.
Não caminha, portanto não carrega um cajado.
Não está cansado, portanto não tem trono.
O Deus que me acompanha não é bíblico.
Jamais se deixaria resumir por dez mandamentos, algumas parábolas e um pensamento que não se renova.
O meu Deus é tão superior quanto o Deus dos outros, mas sua superioridade está na compreensão das diferenças, na aceitação das fraquezas e no estímulo à felicidade.
O Deus em que acredito me ensina a guerrear conforme as armas que tenho e detecta em mim a honestidade dos atos.
Não distribui culpas a granel: as minhas são umas, as do vizinho são outras, e nossa penitência é a reflexão.
Ave Maria, Pai Nosso, isso qualquer um decora sem saber o que está dizendo.
Para o Deus em que acredito só vale o que se está sentindo.
O Deus em que acredito não condena o prazer. Se ele não tem controle sobre enchentes e violência, se não tem controle sobre traficantes, corruptos e vigaristas, se não tem controle sobre a miséria, o câncer e as mágoas, então que Deus seria ele se ainda por cima condenasse o que nos resta: o lúdico, o sensorial, a libido que nasce com toda criança e se desenvolve livre, se assim o permitirem?
O Deus em que acredito não é tão bonzinho: me castiga e me deixa uns tempos sozinha.
Não me abandona, mas me exige mais do que uma visita à igreja, uma flexão de joelhos e uma doação aos pobres: cobra caro pelos meus erros e não aceita promessas performáticas, como carregar uma cruz gigante nos ombros.
A cruz pesa onde tem que pesar: dentro. É onde tudo acontece e tudo se resolve.
Este é o Deus que me acompanha.
Um Deus simples.
Deus que é Deus não precisa ser difícil e distante, sabe-tudo e vê-tudo.
Meu Deus é discreto e otimista. Não se esconde, ao contrário, aparece principalmente nas horas boas para incentivar, para me fazer sentir o quanto vale um pequeno momento grandioso: um abraço numa amiga, uma música na hora certa, um silêncio.
É onipresente, mas não onipotente.
Meu Deus é humilde.
Não posso imaginar um Deus repressor e um Deus que não sorri.
Quem não te sorri não é cúmplice."
Martha Medeiros
Mas não sei se o Deus em que eu acredito é o mesmo Deus em que acredita o balconista, a professora, o porteiro.
O Deus em que acredito não foi globalizado.
O Deus com quem converso não é uma pessoa, não é pai de ninguém.
É uma idéia, uma energia, uma eminência.
Não tem rosto, portanto não tem barba.
Não caminha, portanto não carrega um cajado.
Não está cansado, portanto não tem trono.
O Deus que me acompanha não é bíblico.
Jamais se deixaria resumir por dez mandamentos, algumas parábolas e um pensamento que não se renova.
O meu Deus é tão superior quanto o Deus dos outros, mas sua superioridade está na compreensão das diferenças, na aceitação das fraquezas e no estímulo à felicidade.
O Deus em que acredito me ensina a guerrear conforme as armas que tenho e detecta em mim a honestidade dos atos.
Não distribui culpas a granel: as minhas são umas, as do vizinho são outras, e nossa penitência é a reflexão.
Ave Maria, Pai Nosso, isso qualquer um decora sem saber o que está dizendo.
Para o Deus em que acredito só vale o que se está sentindo.
O Deus em que acredito não condena o prazer. Se ele não tem controle sobre enchentes e violência, se não tem controle sobre traficantes, corruptos e vigaristas, se não tem controle sobre a miséria, o câncer e as mágoas, então que Deus seria ele se ainda por cima condenasse o que nos resta: o lúdico, o sensorial, a libido que nasce com toda criança e se desenvolve livre, se assim o permitirem?
O Deus em que acredito não é tão bonzinho: me castiga e me deixa uns tempos sozinha.
Não me abandona, mas me exige mais do que uma visita à igreja, uma flexão de joelhos e uma doação aos pobres: cobra caro pelos meus erros e não aceita promessas performáticas, como carregar uma cruz gigante nos ombros.
A cruz pesa onde tem que pesar: dentro. É onde tudo acontece e tudo se resolve.
Este é o Deus que me acompanha.
Um Deus simples.
Deus que é Deus não precisa ser difícil e distante, sabe-tudo e vê-tudo.
Meu Deus é discreto e otimista. Não se esconde, ao contrário, aparece principalmente nas horas boas para incentivar, para me fazer sentir o quanto vale um pequeno momento grandioso: um abraço numa amiga, uma música na hora certa, um silêncio.
É onipresente, mas não onipotente.
Meu Deus é humilde.
Não posso imaginar um Deus repressor e um Deus que não sorri.
Quem não te sorri não é cúmplice."
Martha Medeiros
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sábado, 27 de março de 2010
Reverências ao Destino
"Falar é completamente fácil, quando se tem palavras em mente que expressem sua opinião.
Difícil é expressar por gestos e atitudes o que realmente queremos dizer, o quanto queremos dizer, antes que a pessoa se vá.
Fácil é ser colega, fazer companhia a alguém, dizer o que ele deseja ouvir.
Difícil é ser amigo para todas as horas e dizer sempre a verdade quando for preciso.
E com confiança no que diz.
Difícil é mentir para o nosso coração.
Fácil é ver o que queremos enxergar.
Difícil é saber que nos iludimos com o que achávamos ter visto.
Admitir que nos deixamos levar, mais uma vez, isso é difícil.
Fácil é dizer "oi" ou "como vai?"
Difícil é dizer "adeus", principalmente quando somos culpados pela partida de alguém de nossas vidas...
Fácil é abraçar, apertar as mãos, beijar de olhos fechados.
Difícil é sentir a energia que é transmitida.
Aquela que toma conta do corpo como uma corrente elétrica quando tocamos a pessoa certa.
Fácil é querer ser amado.
Difícil é amar completamente só.
Amar de verdade, sem ter medo de viver, sem ter medo do depois. Amar e se entregar, e aprender a dar valor somente a quem te ama.
Fácil é ouvir a música que toca.
Difícil é ouvir a sua consciência, acenando o tempo todo, mostrando nossas escolhas erradas.
Fácil é chorar ou sorrir quando der vontade.
Difícil é sorrir com vontade de chorar ou chorar de rir, de alegria.
Fácil é dar um beijo.
Difícil é entregar a alma, sinceramente, por inteiro.
Fácil é sair com várias pessoas ao longo da vida.
Difícil é entender que pouquíssimas delas vão te aceitar como você é e te fazer feliz por inteiro.
Fácil é ocupar um lugar na caderneta telefônica.
Difícil é ocupar o coração de alguém, saber que se é realmente amado.
Fácil é sonhar todas as noites.
Difícil é lutar por um sonho.
Eterno, é tudo aquilo que dura uma fração de segundo, mas com tamanha intensidade, que se petrifica, e nenhuma força jamais o resgata. "
Carlos Drummond de Andrade
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Antigo e Inúitil
"Quanto a mim...
O amor passou.
Eu só lhe peço que não faça
como a gente vulgar, e não
me volte a cara quando passe por si.
Nem tenha de mim uma recordação
em que entre o rancor.
Fiquemos um perante o outro,
como dois conhecidos desde a infância,
que se amaram um pouco quando meninos, e,
embora na vida adulta sigam outras afeições,
conservou num escaninho da alma, a memória
do seu amor antigo e inútil."
Fernando Pessoa
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sexta-feira, 26 de março de 2010
Dicas de Beleza Eterna
"Para ter lábios atraentes, diga palavras doces;
Para ter olhos belos, procure ver o lado bom das pessoas;
Para ter um corpo esguio, divida sua comida com os famintos;
Para ter cabelos bonitos, deixe uma criança passar seus dedos por eles pelo menos uma vez por dia;
Para ter boa postura, caminhe com a certeza de que nunca andará sozinho; pessoas, muito mais que coisas, devem ser restauradas, revividas, resgatadas e redimidas;
Lembre-se que, se alguma vez precisar de uma mão amiga, você a encontrará no final do seu braço.
Ao ficarmos mais velhos, descobrimos porque temos duas mãos, uma para ajudar a nós mesmos, a outra para ajudar o próximo;
A beleza de uma mulher não está nas roupas que ela veste, nem no corpo que ela carrega, ou na forma como penteia o cabelo.
A beleza de uma mulher deve ser vista nos seus olhos, porque esta é a porta para seu coração, o lugar onde o amor reside!"
Audrey Hepburn
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terça-feira, 23 de março de 2010
Quem manda?
"Meu mal é este. Achar que posso controlar coisas que não têm o mínimo controle. Achar que mando no meu coração. E ignoro completamente que não depende da minha vontade se ele vai bater mais rápido ou mais devagar. Que ele dispara e quer sair pela boca quando eu vejo aquele cidadão. E que eu só penso nisso e não controlo nem meus pensamentos.
Juro que tento. Mas não é tão simples assim. Nunca me apaixonei por quem eu deveria me apaixonar. Sei exatamente o que eu deveria querer, mas nunca achei muita graça em fazer o que eu deveria. E, na hora que eu acho que vou fazer tudo certo, lá estou eu, de novo, dando a cara pra bater. Me jogando. Entrando em furadas e rindo dos meus próprios erros. Metendo os pés pelas mãos. Rindo pra não chorar. Chorando e começando tudo de novo.
Acho que tenho problemas mentais sérios. É isso. Escolhi a dedo. O mais lindo. O mais inteligente. O mais bem sucedido. O mais sarado. O mais gente boa. O mais “bom moço”. O mais carinhoso. O mais fofo. O mais velho que eu. O que menos bebe. O que nunca fumou. Que nunca se drogou. (Sim, esse cara existe de verdade!). E quem disse que eu quero agora? Quem disse que meus batimentos cardíacos aumentam – por um segundo que seja – quando eu estou com ele?! Quem disse que eu coloquei pra ele um toque especial no meu celular?
Não mesmo. Meu celular toca diferente é quando aquele infeliz liga. Sim. Porque, pra ele, eu coloquei um toque especial no dia seguinte. E, se meu celular tivesse luzes coloridas, sirene de ambulância, apito de trânsito, tambores do Olodum, eu colocaria todos tocando ao mesmo tempo quando ele liga. Se bem que nem precisaria. Meu coração sai pela boca até quando ele liga e meu celular está no modo “silencioso”. E eu atendo sem tomar fôlego, engasgando com o ar. Falo atropelando as palavras. Não ouço muito bem o que ele fala, mas acho tudo lindo. Não entendo qual foi o convite do dia, mas digo que vou.
E agüento até as piadas das minhas amigas. Escuto a Gissa dizer que ele é a “visão do inferno” e ainda dou risada. E ele não é nada meu tipo. Não tem nenhuma das características que eu admiro num cara. É um menino que pensa que é homem. Mas ele manda no meu coração muito mais do que eu. Ele tem esse poder de me tirar o fôlego. De me deixar sem forças. De me fazer querer ele e só ele. De me fazer não querer nem o mais perfeito dos caras que eu encontrei depois dele. Ele me faz jogar pro alto todos os meus conceitos, tudo o que eu listei cuidadosamente na minha cabeça pra procurar num cara. Sim, ele me surpreende. Ele supera minhas expectativas. Ele me diz: “apronte-se em dez minutos que estou passando aí”, quando eu nem banho tomei. Ele aparece no meio da tarde só pra dizer “oi”. Ele liga, às duas da manhã, pra me dar boa noite. E ele me olha de um jeito que parece que é meu. E eu mal o conheço mas me sinto tão à vontade do lado dele. E eu posso ser eu mesma sem precisar me explicar. Sem querer controlar o futuro. Sem querer controlar minha própria vida. E começo a desejar que as coisas que não têm o mínimo controle que se explodam! Ele me faz entender, de uma forma tão simples, que tem alguém que realmente manda nesse coração."
Brena Braz
Juro que tento. Mas não é tão simples assim. Nunca me apaixonei por quem eu deveria me apaixonar. Sei exatamente o que eu deveria querer, mas nunca achei muita graça em fazer o que eu deveria. E, na hora que eu acho que vou fazer tudo certo, lá estou eu, de novo, dando a cara pra bater. Me jogando. Entrando em furadas e rindo dos meus próprios erros. Metendo os pés pelas mãos. Rindo pra não chorar. Chorando e começando tudo de novo.
Acho que tenho problemas mentais sérios. É isso. Escolhi a dedo. O mais lindo. O mais inteligente. O mais bem sucedido. O mais sarado. O mais gente boa. O mais “bom moço”. O mais carinhoso. O mais fofo. O mais velho que eu. O que menos bebe. O que nunca fumou. Que nunca se drogou. (Sim, esse cara existe de verdade!). E quem disse que eu quero agora? Quem disse que meus batimentos cardíacos aumentam – por um segundo que seja – quando eu estou com ele?! Quem disse que eu coloquei pra ele um toque especial no meu celular?
Não mesmo. Meu celular toca diferente é quando aquele infeliz liga. Sim. Porque, pra ele, eu coloquei um toque especial no dia seguinte. E, se meu celular tivesse luzes coloridas, sirene de ambulância, apito de trânsito, tambores do Olodum, eu colocaria todos tocando ao mesmo tempo quando ele liga. Se bem que nem precisaria. Meu coração sai pela boca até quando ele liga e meu celular está no modo “silencioso”. E eu atendo sem tomar fôlego, engasgando com o ar. Falo atropelando as palavras. Não ouço muito bem o que ele fala, mas acho tudo lindo. Não entendo qual foi o convite do dia, mas digo que vou.
E agüento até as piadas das minhas amigas. Escuto a Gissa dizer que ele é a “visão do inferno” e ainda dou risada. E ele não é nada meu tipo. Não tem nenhuma das características que eu admiro num cara. É um menino que pensa que é homem. Mas ele manda no meu coração muito mais do que eu. Ele tem esse poder de me tirar o fôlego. De me deixar sem forças. De me fazer querer ele e só ele. De me fazer não querer nem o mais perfeito dos caras que eu encontrei depois dele. Ele me faz jogar pro alto todos os meus conceitos, tudo o que eu listei cuidadosamente na minha cabeça pra procurar num cara. Sim, ele me surpreende. Ele supera minhas expectativas. Ele me diz: “apronte-se em dez minutos que estou passando aí”, quando eu nem banho tomei. Ele aparece no meio da tarde só pra dizer “oi”. Ele liga, às duas da manhã, pra me dar boa noite. E ele me olha de um jeito que parece que é meu. E eu mal o conheço mas me sinto tão à vontade do lado dele. E eu posso ser eu mesma sem precisar me explicar. Sem querer controlar o futuro. Sem querer controlar minha própria vida. E começo a desejar que as coisas que não têm o mínimo controle que se explodam! Ele me faz entender, de uma forma tão simples, que tem alguém que realmente manda nesse coração."
Brena Braz
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Ele quem mesmo?
"Depois de um bom tempo dizendo que eu era a mulher da vida dele, um belo dia eu recebo um e-mail dizendo: "olha, não dá mais". Tá certo que a gente tava quase se matando e que o namoro já tinha acabado mesmo, mas não se termina nenhuma história de amor (e eu ainda o amava muito) com um e-mail, não é mesmo? Liguei pra tentar conversar e terminar tudo decentemente e ele respondeu: "mas agora eu tô comendo um lanche com amigos". Enfim, fiquei pra morrer algumas semanas até que decidi que precisava ser uma mulher melhor para ele. Quem sabe eu ficando mais bonita, mais equilibrada ou mais inteligente, ele não voltava pra mim? Foi assim que me matriculei simultaneamente numa academia de ginástica, num centro budista e em um curso de cinema. Nos meses que se seguiram eu me tornei dos seres mais malhados, calmos, espiritualizados e cinéfilos do planeta. E sabe o que aconteceu? Nada, absolutamente nada, ele continuou não lembrando que eu existia. Aí achei que isso não podia ficar assim, de jeito nenhum, eu precisava ser ainda melhor pra ele, sim, ele tinha que voltar pra mim de qualquer jeito. Decidi ser uma mulher mais feliz, afinal, quando você é feliz com você mesma, você não põe toda a sua felicidade no outro e tudo fica mais leve. Pra isso, larguei de vez a propaganda, que eu não suportava mais, e resolvi me empenhar na carreira de escritora, participei de vários livros, terminei meu próprio livro, ganhei novas colunas em revistas, quintupliquei o número de leitores do meu site e nada aconteceu. Mas eu sou taurina com ascendente em áries, lua em gêmeos e filha única Eu não desisto fácil assim de um amor, e então resolvi que eu tinha que ser uma super ultra mulher para ele, só assim ele voltaria pra mim. Foi então que passei 35 dias na Europa, exclusivamente em minha companhia, conhecendo lugares geniais, controlando meu pânico em estar sozinha e longe de casa, me tornando mais culta e vivida. Voltei de viagem e tchân, tchân, tchân, tchân: nem sinal de vida. Comecei um documentário com um grande amigo, aprendi a fazer strip, cortei meu cabelo 145 vezes, aumentei a terapia, li mais uns 30 livros, ajudei os pobres,rezei pra Santo Antonio umas 1.000 vezes, torrei no sol, fiz milhares de cursos de roteiro, astrologia e história, aprendi a nadar, me apaixonei por praia, comprei todas as roupas mais lindas de Paris. Como última cartada para ser a melhor mulher do planeta, eu resolvi ir morar sozinha. Aluguei um apartamento charmoso, decorei tudo brilhantemente, chamei amigos para a inauguração, servi bom vinho e comidinhas feitas, claro, por mim, que também finalmente aprendi a cozinhar. Resultado disso tudo: silêncio absoluto. O tempo passou, eu continuei acordando e indo dormir todos os dias querendo ser mais feliz para ele, mais bonita para ele, mais mulher para ele. Até que algo sensacional aconteceu! Um belo dia eu acordei tão bonita, tão feliz, tão realizada, tão mulher que eu acabei me tornando mulher demais para ele. Ele quem mesmo?"
Martha Medeiros
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Toca
"Eu tenho um beijo que alterna do calmo pro intenso, você iria gostar. Acho que você tem olhos iguais ao meu beijo.
A gente poderia ser interessante andando com suas mãos longilíneas e eu tão pequenininha. De repente as pessoas poderiam olhar e pensar: lá vai mais um casal que não combina mas por isso mesmo dá certo. Seria lindo.
Eu olho tanto meu celular que já decorei de quanto em quanto são cinco minutos. Eu tenho vontade de jogar meu celular numa parede qualquer. E me libertar da vontade de ouvir sua voz.
De novo, de novo, eu não canso. De novo fazendo romance em cima de um conto breve. Dois jantares e um almoço. Só isso. E lá estou eu achando que você pode ser um forte candidato a homem da minha vida. Lá estou eu acreditando que exista um homem da minha vida.
Se você não ligar, nunca mais, eu vou ficar triste, igual fiquei semana passada porque outro não ligou, igual fiquei semana retrasada porque outro sumiu. Igual eu vivo ficando chateada e vive passando. Eu tenho prostituído demais a minha espera. E as coisas parecem perder a importância toda hora. O problema é que, para perder a importância toda hora, toda hora vivem ganhando importância, e eu estou ficando cansada.
Ah, se você me ligasse, a gente poderia ver aquele filme do Bertolucci que eu tô louca pra ver e, se no filme tivesse cena de sexo, eu iria morrer de vergonha. Depois você poderia me fazer alguns elogios, afinal eu passei o dia inteiro com uma touca de creme no cabelo esperando a sua ligação.
Os grampos estão me machucando, mas eu agüento a dor, eu agüento esperar.
O seu beijo poderia ser daqueles calmos e profundos e a gente poderia combinar tão obviamente quanto é óbvio o silêncio do meu celular. A gente poderia acabar de se beijar e cair na risada, uma risada tão ensurdecedora quanto o silêncio do meu celular.
Liga, vai, me dá uma chance. Me dá uma chance de ser extremamente sensual apesar do meu braço torto e das celulites da minha bunda. Ser extremamente sensível apesar de todas as ironias que eu te falo pra você não achar que pode me ganhar.
Eu aprendo a gostar de Nick Drake, Velvet, e se bobear até divido um ácido com você. Não, esquece, tô fora do ácido e quer saber de uma coisa? A Britney Spears vai continuar me dando uma vontade louca de dançar. É como você mesmo disse: eu tenho o ouvido burro.
Mas eu tenho uma mão esperta, me liga vai?
Olha eu mais uma vez me vendendo sexualmente, não, não compre. Compre meu coração, compre minha alma. Recuse minha incapacidade de me achar amada e me ame.
Se você me ligasse a gente poderia ter uma conversa séria a respeito da solidão e do tédio do mundo e resolver ser feliz pra sempre. A gente poderia resolver isso e depois resolver que o mundo tem suas limitações e depois resolver que não tem limitação coisa nenhuma. A gente poderia mudar de opinião juntos e tornar a vida menos solitária e tediosa.
Olha, é simples, são sete números e uma única chance de conhecer uma mulher super bacana. Que, sim, tem chulé às vezes, tem bafo às vezes, tem ataques de histeria, ciúme e infantilidade às vezes. tá bom, é mais do que às vezes, mas se você me ocupar com bom papo e carinho, eu juro que esqueço um pouco meu lado que não sabe se relacionar.
Peraí, tá tocando aqui. tem que ser você, tem que ser você. tem que meeeeeeerda, pena que não dá para processar o "Vivo Informa" por propaganda enganosa."
Tati Bernardi
A gente poderia ser interessante andando com suas mãos longilíneas e eu tão pequenininha. De repente as pessoas poderiam olhar e pensar: lá vai mais um casal que não combina mas por isso mesmo dá certo. Seria lindo.
Eu olho tanto meu celular que já decorei de quanto em quanto são cinco minutos. Eu tenho vontade de jogar meu celular numa parede qualquer. E me libertar da vontade de ouvir sua voz.
De novo, de novo, eu não canso. De novo fazendo romance em cima de um conto breve. Dois jantares e um almoço. Só isso. E lá estou eu achando que você pode ser um forte candidato a homem da minha vida. Lá estou eu acreditando que exista um homem da minha vida.
Se você não ligar, nunca mais, eu vou ficar triste, igual fiquei semana passada porque outro não ligou, igual fiquei semana retrasada porque outro sumiu. Igual eu vivo ficando chateada e vive passando. Eu tenho prostituído demais a minha espera. E as coisas parecem perder a importância toda hora. O problema é que, para perder a importância toda hora, toda hora vivem ganhando importância, e eu estou ficando cansada.
Ah, se você me ligasse, a gente poderia ver aquele filme do Bertolucci que eu tô louca pra ver e, se no filme tivesse cena de sexo, eu iria morrer de vergonha. Depois você poderia me fazer alguns elogios, afinal eu passei o dia inteiro com uma touca de creme no cabelo esperando a sua ligação.
Os grampos estão me machucando, mas eu agüento a dor, eu agüento esperar.
O seu beijo poderia ser daqueles calmos e profundos e a gente poderia combinar tão obviamente quanto é óbvio o silêncio do meu celular. A gente poderia acabar de se beijar e cair na risada, uma risada tão ensurdecedora quanto o silêncio do meu celular.
Liga, vai, me dá uma chance. Me dá uma chance de ser extremamente sensual apesar do meu braço torto e das celulites da minha bunda. Ser extremamente sensível apesar de todas as ironias que eu te falo pra você não achar que pode me ganhar.
Eu aprendo a gostar de Nick Drake, Velvet, e se bobear até divido um ácido com você. Não, esquece, tô fora do ácido e quer saber de uma coisa? A Britney Spears vai continuar me dando uma vontade louca de dançar. É como você mesmo disse: eu tenho o ouvido burro.
Mas eu tenho uma mão esperta, me liga vai?
Olha eu mais uma vez me vendendo sexualmente, não, não compre. Compre meu coração, compre minha alma. Recuse minha incapacidade de me achar amada e me ame.
Se você me ligasse a gente poderia ter uma conversa séria a respeito da solidão e do tédio do mundo e resolver ser feliz pra sempre. A gente poderia resolver isso e depois resolver que o mundo tem suas limitações e depois resolver que não tem limitação coisa nenhuma. A gente poderia mudar de opinião juntos e tornar a vida menos solitária e tediosa.
Olha, é simples, são sete números e uma única chance de conhecer uma mulher super bacana. Que, sim, tem chulé às vezes, tem bafo às vezes, tem ataques de histeria, ciúme e infantilidade às vezes. tá bom, é mais do que às vezes, mas se você me ocupar com bom papo e carinho, eu juro que esqueço um pouco meu lado que não sabe se relacionar.
Peraí, tá tocando aqui. tem que ser você, tem que ser você. tem que meeeeeeerda, pena que não dá para processar o "Vivo Informa" por propaganda enganosa."
Tati Bernardi
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Encerramento
"Eu sou criança. E vou crescer assim. Gosto de abraçar apertado, sentir alegria inteira, inventar mundos, inventar amores. Acho graça onde não há sentido. Acho lindo o que não é. O simples me faz rir, o complicado me aborrece. O mundo pra mim é grande, não entendo como moro em um planeta que gira sem parar, nem como funciona o fax. Verdade seja dita: entender, eu entendo. Mas não faz diferença, o mundo continua rodando, existe a tal gravidade, papéis entram e saem de máquinas, existem coisas que não precisam ser explicadas. (Pelo menos para mim).
O que importa é o que faz os meus olhos brilharem, o coração bater forte, o sorriso saltar da cara. Eu acho que as pessoas são sempre grandes e às vezes pequenas, igual brinquedo Playmobil. Enxergo o mundo sempre lindo e às vezes cinza, mas para isso existem o lápis-de-cor e o amor que a gente aprendeu em casa desde cedo. Lembra?
Tenho um coração maior do que eu, nunca sei minha altura, tenho o tamanho de um sonho. E o sonho escreve a minha vida que às vezes eu risco, rabisco, embolo e jogo debaixo da cama (pra descansar a alma e dormir sossegada).
Coragem eu tenho um monte. Mas medo eu tenho poucos. Tenho medo de filme de susto, de lagartixa branca, de maionese vencida, tenho medo das pessoas, tenho medo de mim. Minha bagunça mora aqui dentro, pensamentos entram e saem, nunca sei aonde fui parar. Mas uma coisa eu digo: eu não páro. Perco o rumo, ralo o joelho, bato de frente com a cara na porta: sei aonde quero chegar, mesmo sem saber como. E vou. Sempre me pergunto quanto falta, se está perto, com que letra começa, se vai ter fim, se vai dar certo. Sempre pergunto se você está feliz, se eu estou linda, se eu vou ganhar estrelinha, se eu posso levar pra casa, se eu posso te levar pra mim, se o café ficou forte demais. Eu sou assim. Nada de meias-palavras. Já mudei, já aprendi, já fiquei de castigo, já levei ocorrência, já preguei chiclete debaixo da carteira da sala de aula, mas palavra é igual oração: tem que ser inteira senão perde a força.
Sou menina levada, princesa de rua, sou criança crescida com contas para pagar. E mesmo pequena, não deixo de crescer. Trabalho igual gente grande, fico séria, traço metas. Mas quando chega a hora do recreio, aí vou eu... Beijo escondido, faço bico, faço manha, tomo sorvete no pote, choro quando dói, choro quando não dói. E eu amo. Amo igual criança. Amo com os olhos vidrados, amo com todas as letras. A-M-O. Amo e invento. Sem restrições. Sem medo. Sem frases cortadas. Sem censura. Sem pudor. Quer me entender? Não precisa. Quer me amar? Me dê um chocolate, um bilhete, um brinde que você ganhou e não gostou, uma mentira bonita pra me fazer sonhar. Não importa. Porque hoje é dia das crianças e criança não liga pra preço, não liga pra laço de fita e cartão de relevo. Criança gosta de beijo, abraço e surpresa!"
Fernanda Mello
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Eu
"Eu triste sou calada
Eu brava sou estúpida
Eu lúcida sou chata
Eu gata sou esperta
Eu cega sou vidente
Eu carente sou insana
Eu malandra sou fresca
Eu seca sou vazia
Eu fria sou distante
Eu quente sou oleosa
Eu prosa sou tantas
Eu santa sou gelada
Eu salgada sou crua
Eu pura sou tentada
Eu sentada sou alta
Eu jovem sou donzela
Eu bela sou fútil
Eu útil sou boa
Eu à toa sou tua."
Martha Medeiros
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Desejo
"Sabe qual é meu sonho secreto? Que um dia você perceba que poderia ter aproveitado melhor a minha companhia.
Que um dia imagine o quanto teria sido ótimo estar ao meu lado, mesmo quando eu estava gripada.
No entanto, sei que você está a cada dia que passa mais fugidio. E eu me limito a me surpreender com as circunstâncias da vida.
Que me levaram a viver esse papel: o da mulher que quer mais um pouquinho. Constrange-me existir esse personagem Chico Buarque, dolorida, bonita, sendo assim, meio tonta, meio insistente, até meio chata. Nunca precisei aborrecer ninguém antes, então atuo por instinto, cansando-me facilmente. E que fique claro que não é por estar você dessa forma, tão esquivo, que o desejo tanto. Desejo-o porque desejo. Estúpida. Latina. Bethânia.
Ainda creio que você, quando eu menos esperar, possa me chegar com um verso em atitude."
Fernanda Young
Que um dia imagine o quanto teria sido ótimo estar ao meu lado, mesmo quando eu estava gripada.
No entanto, sei que você está a cada dia que passa mais fugidio. E eu me limito a me surpreender com as circunstâncias da vida.
Que me levaram a viver esse papel: o da mulher que quer mais um pouquinho. Constrange-me existir esse personagem Chico Buarque, dolorida, bonita, sendo assim, meio tonta, meio insistente, até meio chata. Nunca precisei aborrecer ninguém antes, então atuo por instinto, cansando-me facilmente. E que fique claro que não é por estar você dessa forma, tão esquivo, que o desejo tanto. Desejo-o porque desejo. Estúpida. Latina. Bethânia.
Ainda creio que você, quando eu menos esperar, possa me chegar com um verso em atitude."
Fernanda Young
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Não é fácil
Não é fácil, é estranho
Não te contar meus planos, não te encontrar
Todo dia de manhã enquanto eu tomo o meu café amargo
É, ainda boto fé de um dia te ter ao meu lado
Na verdade, eu preciso aprender
Não é fácil, não é fácil
Onde você anda, onde está você?
Toda a vez que eu saio me preparo para talvez te ver
Na verdade eu preciso esquecer
Não é fácil, não é fácil
Todo dia de manhã enquanto eu tomo o meu café amargo
É, ainda boto fé de um dia te ter ao meu lado
O que eu faço? O que eu posso fazer?
Não é fácil, não é fácil
Se você quisesse ia ser tão legal
Acho que eu seria mais feliz do que qualquer mortal
Na verdade não consigo esquecer
Não é fácil, é estranho…"
Marisa Monte
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Apesar de...
“... uma das coisas que aprendi é que se deve viver apesar de. Apesar de, se deve comer. Apesar de, se deve amar. Apesar de, se deve morrer. Inclusive muitas vezes é o próprio apesar de que nos empurra para a frente. Foi o apesar de que me deu uma angústia que insatisfeita foi a criadora de minha própria vida. Foi apesar de que parei na rua e fiquei olhando para você enquanto você esperava um táxi. E desde logo desejando você, esse teu corpo que nem sequer é bonito, mas é o corpo que eu quero. Mas quero inteira, com a alma também. Por isso, não faz mal que você não venha, esperarei quanto tempo for preciso.”
Clarice Lispector
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Saudade
"Saudade é solidão acompanhada,
é quando o amor ainda não foi embora,
mas o amado já...
Saudade é amar um passado que ainda não passou,
é recusar um presente que nos machuca,
Saudade é sentir que existe o que não existe mais...
Saudade é o inferno dos que perderam,é a dor dos que ficaram para trás,
é o gosto de morte na boca dos que continuam...
Só uma pessoa no mundo deseja sentir saudade:
aquela que nunca amou.
E esse é o maior dos sofrimentos:
não ter por quem sentir saudades, passar pela vida e não viver.
O maior dos sofrimentos é nunca ter sofrido."
Pablo Neruda
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Quem se defende
"Privatizaram sua vida, seu trabalho, sua hora de amar e seu direito de pensar.
É da empresa privada o seu passo em frente,
seu pão e seu salário.
E agora não contente querem
privatizar o conhecimento, a sabedoria,
o pensamento, que só à humanidade pertence.
A corrente impetuosa é chamada de violenta
Mas o leito do rio que a contém
Ninguém chama de violento.
A tempestade que faz dobrar as betulas
É tida como violenta
E a tempestade que faz dobrar
Os dorsos dos operários na rua?
Quem se defende porque lhe tiram o ar
Ao lhe apertar a garganta, para este há um parágrafo
Que diz: ele agiu em legítima defesa.
Mas
O mesmo parágrafo silencia
Quando vocês se defendem porque lhes tiram o pão.
E no entanto morre quem não come, e quem não come o suficiente
Morre lentamente.
Durante os anos todos em que morre
Não lhe é permitido se defender.
Desconfiai do mais trivial, na aparência singelo.
E examinai, sobretudo, o que parece habitual.
Suplicamos expressamente: não aceiteis o que é de
hábito como coisa natural, pois em tempo de desordem
sangrenta, de confusão organizada, de arbitrariedade consciente,
de humanidade desumanizada, nada deve parecer natural
nada deve parecer impossível de mudar."
Bertold Brecht
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segunda-feira, 22 de março de 2010
Já era
"Nunca sabemos ao certo quando deixamos de ser importantes.
É triste perceber que quem tanto me importa não olha por mim, apenas me vê. Não altera em nada sua lista de prioridades quando preciso de socorro, atenção. Apenas (depois, sempre depois) desculpa-se. Diz que as coisas estão complicadas. Está constantemente ocupado, atrapalhado. Sempre se sai com ótimos motivos para não ter ido, feito, acompanhado. Conhece meus gostos, minhas neuras, o porquê do riso rasgado. Sabe o número do meu telefone, onde vivo, mas mora num outro universo, do qual não tenho o endereço, nem pertenço: é péssimo notar que sou pouco para quem é muito pra mim.
E não se trata de desdém, nem de rancor. É mais sutil e menos óbvio, por isso tão doído (sei que o carinho existe, mas anda tímido). Pode até me surpreender com telefonemas, e-mails, conversas à toa, mas não está presente nos momentos críticos da minha vida. Torna-se incomunicável, desaparece. Não fica ao meu lado. Não pega o lenço para que eu possa continuar chorando, sem medo de julgamentos. Não traz da cozinha a garrafa da minha bebida preferida para comemorarmos. Não me abraça quando faltam palavras, não me afaga quando elas não bastam. Sei que aquela pessoa, tal qual a recordo, existiu, só não sei em que ponto deixou de ser real para se tornar um holograma da minha mente. Uma suspeita de surto: será que me enganei desse jeito? Talvez não tenha me enganado, apenas o tempo nos tenha tornado diferentes demais e já não andemos na mesma direção.
Talvez.
A vida acaba nos trazendo, inevitavelmente, amigos assim (que chamamos "amigos" por desconhecimento de termo mais adequado). Amores assim. Pessoas que estiveram conosco, compartilharam e construíram nossa história, mas que, sabe-se lá quando e por que, descompassaram. Alguns até continuam presentes, mas jamais estiveram tão ausentes. Outros fazem questão de dizer o quanto somos importantes, especiais, e eis um alerta que não ignoro: sempre desconfiei de quem fala "Você pode contar comigo", "Qualquer coisa, me liga", "Nunca vou te esquecer". Isso se mostra calmamente, no dia-a-dia, não se legaliza numa promessa. É preciso tempo, e é só com ele que saberei se essas palavras significam algo ou são mera formalidade. Me mostre que eu posso contar com você, não me diga isso.
Talvez percamos o sentido de existir na vida de algumas pessoas, por mais importantes que tenhamos sido (ou que supomos ter sido). Nossa permanência torna-se oca de significado. Desbota. Gradualmente, sumimos. E não há nada de errado nisso. De triste, sim (todo fim é triste), mas não de errado: não dá para exigir ser amado. Errado é mantermos à nossa volta, atrelados a nós por compulsão ou necessidade de companhia, quem não tem mais nada a nos oferecer. Para quem oferecemos tão pouco.
Quantos sinais são necessários até compreendermos que já não nos importamos com alguém?"
Ailin Aleixo
É triste perceber que quem tanto me importa não olha por mim, apenas me vê. Não altera em nada sua lista de prioridades quando preciso de socorro, atenção. Apenas (depois, sempre depois) desculpa-se. Diz que as coisas estão complicadas. Está constantemente ocupado, atrapalhado. Sempre se sai com ótimos motivos para não ter ido, feito, acompanhado. Conhece meus gostos, minhas neuras, o porquê do riso rasgado. Sabe o número do meu telefone, onde vivo, mas mora num outro universo, do qual não tenho o endereço, nem pertenço: é péssimo notar que sou pouco para quem é muito pra mim.
E não se trata de desdém, nem de rancor. É mais sutil e menos óbvio, por isso tão doído (sei que o carinho existe, mas anda tímido). Pode até me surpreender com telefonemas, e-mails, conversas à toa, mas não está presente nos momentos críticos da minha vida. Torna-se incomunicável, desaparece. Não fica ao meu lado. Não pega o lenço para que eu possa continuar chorando, sem medo de julgamentos. Não traz da cozinha a garrafa da minha bebida preferida para comemorarmos. Não me abraça quando faltam palavras, não me afaga quando elas não bastam. Sei que aquela pessoa, tal qual a recordo, existiu, só não sei em que ponto deixou de ser real para se tornar um holograma da minha mente. Uma suspeita de surto: será que me enganei desse jeito? Talvez não tenha me enganado, apenas o tempo nos tenha tornado diferentes demais e já não andemos na mesma direção.
Talvez.
A vida acaba nos trazendo, inevitavelmente, amigos assim (que chamamos "amigos" por desconhecimento de termo mais adequado). Amores assim. Pessoas que estiveram conosco, compartilharam e construíram nossa história, mas que, sabe-se lá quando e por que, descompassaram. Alguns até continuam presentes, mas jamais estiveram tão ausentes. Outros fazem questão de dizer o quanto somos importantes, especiais, e eis um alerta que não ignoro: sempre desconfiei de quem fala "Você pode contar comigo", "Qualquer coisa, me liga", "Nunca vou te esquecer". Isso se mostra calmamente, no dia-a-dia, não se legaliza numa promessa. É preciso tempo, e é só com ele que saberei se essas palavras significam algo ou são mera formalidade. Me mostre que eu posso contar com você, não me diga isso.
Talvez percamos o sentido de existir na vida de algumas pessoas, por mais importantes que tenhamos sido (ou que supomos ter sido). Nossa permanência torna-se oca de significado. Desbota. Gradualmente, sumimos. E não há nada de errado nisso. De triste, sim (todo fim é triste), mas não de errado: não dá para exigir ser amado. Errado é mantermos à nossa volta, atrelados a nós por compulsão ou necessidade de companhia, quem não tem mais nada a nos oferecer. Para quem oferecemos tão pouco.
Quantos sinais são necessários até compreendermos que já não nos importamos com alguém?"
Ailin Aleixo
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Férias
Não existe ninguém que pode me fazer mais feliz hoje e ter essa consciência muda o humor, muda a disposição, muda as vontades. Sabe o que é? As pessoas não me fazem bem, minha idealização delas me engana por um tempo, mas saio fatalmente mal das relações que eu invento. Então por que não me curtir um pouco - me sentir mais leve, mais bonita, mais interessante, já que o fantasma da obrigação de agradar não está me seguindo? Essa é uma daquelas fases de sorrir e não querer saber o motivo, de férias mesmo. De tudo que eu me cobro todos os outros dias do ano, depois me cobro por não ter tempo de cumprir.
Eu cansei de não me satisfazer comigo, não me guardar pra mim. De estar sempre escorrendo, vazando pelas beiradas. De precisar de opinião alheia por ser tudo ao mesmo tempo e esperar reconhecimento por isso. É tanta coisa aqui dentro, tanta coisa que eu tento melhorar e aprender todos os dias, que eu conto toda minha vida pra quem eu acabo de conhecer e fico chateada quando não me dão o valor que eu penso merecer. Mas ei, qual o problema? Nem todo mundo acha que ler e escrever (além do sentido banal de ler e escrever), é interessante. Nem todo mundo precisa saber que uma clave de sol não é um S, nem um G, e deduzir que eu gosto de música só de olhar pra mim. Não adianta chegar numa festa cheia de barulho e gente e querer conversar, achando que antes do cara sugar um pouquinho da minha alma, deve saber que eu não sou umas dessas mulheres vazias, sem uma alma para ser sugada. Tem mais que vento dentro de mim, mas isso é meu. Não faz diferença eu agir como uma pessoa superficial e querer explicar pra todo mundo que eu não sou. Sempre me arrependo de sair, ir a lugares que não têm nada a ver comigo. Mas eu tenho essa necessidade fútil de ser vista. Quando eu me escondo em casa, me sinto anulada. Preciso da opinião dos outros, de elogios. Quando alguém mostra que se lembrou de mim, adoro. Se diz que sentiu minha falta, tenho mais motivos pra sorrir. Quem precisa saber? Por que é que eu me importo com quem não me conhece?
E hoje não vou fazer isso. Não vou ceder, não vou me preocupar. Vou entrar em férias de mim, balancear os pneus, checar o óleo. Vou me amar. Pra depois tentar, quem sabe, amar alguém."
Verônica H.
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Palavras Líquidas... ou Lágrimas minhas
"Meu travesseiro acordou molhado...Não era a chuva, eram as minhas despedidas dos "sentimentos antigos, já confortáveis"...Viver tem dias muito nublados quando a simples existência nos dói nos ossos. É como mergulhar num mar que não dá pé quando nem se sabe nadar... Não julgo, não culpo o mundo, antes trago a responsabilidade pra mim e digo: " o preço de uma alegria explodida no peito, é essa angústia sem um réu..."
E se eu me entregasse ao vôo? Mas sou flor, arraigada ao solo.
Preciso das suas asas.De você.
Me empresta uma mudança brusca? Tenho urgência!
Um choro de palavras líquidas é o que resta... Sem barulho."
Marla de Queiroz
Se não fosse a palavra, eu me contorceria inteira em cólicas existenciais...E quando acho que já foi o bastante, a vida chega aos borbotões e me diz que há mais...
Acordei sem uma menina dentro de mim. Antes ela tivesse me acordado com o choro mais sentido do mundo pedindo cuidado, atenção...Eu veria a ferida e faria um curativo. Ou tiraria o band-aid e usaria o bisturi...Mas é tão maior e tão silencioso! Às vezes não sei se aguento, às vezes acho que sim. Senão, o aprendizado seria só esse sufoco.
Eu preciso de ar puro...e de uma mirada sincera pro horizonte amplo mesmo que tudo fique embaçado pelas lágrimas que eu não escolhi, mas que me aconteceram.Você sabe do que falo.E se eu me entregasse ao vôo? Mas sou flor, arraigada ao solo.
Preciso das suas asas.De você.
Me empresta uma mudança brusca? Tenho urgência!
Um choro de palavras líquidas é o que resta... Sem barulho."
Marla de Queiroz
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Na berlinda, o coração
O coração da gente gosta de atenção. De cuidados cotidianos. De mimos repentinos. De ser alimentado com iguarias finas, como a beleza, o riso, o afeto. Gosta quando espalhamos os seus brinquedos no chão e sentamos com ele para brincar. E há momentos em que tudo o que ele precisa é que preparemos banhos de imersão na quietude para lavarmos, uma a uma, as partes que lhe doem. É que o levemos para revisitar, na memória, instantes ensolarados de amor capazes de ajudá-lo a mudar a freqüência do sentimento. Há momentos em que tudo o que precisa é que reservemos algum tempo a sós com ele para desapertá-lo com toda delicadeza possível. Coração precisa de espaço. "
Ana Jácomo
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Diz que é mentira
"Então diz que é mentira...
Se não sou teu primeiro pensamento quando acordas.
Se não permaneço em tudo que você faz durante o dia.
Que não sou tua ultima lembrança antes que chegue teu sono.
E que quando finalmente dormes não sou teu sonho.
E que quando tocas outra mulher não é meu corpo que imaginas.
Que quando você sai do banho não é meu cheiro que te invade.
Que quando deitas na cama não é minha cintura que buscas abraçar.
Que quando andas pelas ruas não imaginas andarmos de mãos dadas.
E que não sentes solidão enorme em ver que em teu carro tem um banco vazio.
E que quando vês um filme acha demasiadamente chato não me ouvir falar todo tempo.
Que não sentes falta de me ter para acordar quando chegas tarde da noite.
Que não sentes vontade de cantar nossa música e me ver sorrindo de olhos fechados.
Que não sentes falta de minhas roupas atiradas no banheiro.
E que vez em quando não colocas uma toalha limpa no box como se eu viesse para o banho.
Que não esperas pelo dia que eu te ligue só para dizer um oi.
Que não sentas no metrô em banco de dois lugares
Que não te entristece a falta que faz eu andar de calcinha pelo quarto cantando.
Que não sentes falta do meu sexo ao meio tarde.
Que não olhas pra cama esperando me ver para deitar.
E que não abres os olhos de madrugada esperando encontrar os meus olhos a te olhar."
Cáh Morandi
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É questão de escolha, meu amor
"Quantas vezes eu te falei que não ia dar certo
Mas você insistiu em fazer parte da minha vida
Eu sabia que ia terminar assim
Cada um pro seu lado, como sempre
Eu sei que não foi culpa sua
Mas eu posso garantir, que culpa minha não foi
Eu tentei até o fim
Te mostrar que você podia ser o melhor pra mim
Você nunca levou a sério o que eu te dizia
Se tivesse levado, com certeza seria mais feliz agora
Mas a vida é feita de escolhas, não é verdade?
Você fez as suas e eu as acatei
Agora é cada um pro seu lado
E aquela típica frase: seja feliz, meu amigo
No fundo, eu sempre soube que não fomos feitos um pro outro
Sou emocional, misturo amor e sexo
Meu dicernimento é péssimo
Talvez tenha sido melhor assim
Eu confesso que às vezes sinto falta de você
Mas eu sinto falta de outras coisas que também não voltam mais
Então, você é só mais um delas
E eu tolero, muito bem
Eu só preciso que você nunca esqueça
Que por algum momento eu quis
Sim, eu quis salvar seu lado podre e necrosado
Mas se você quis morrer pra mim
É questão de escolha, meu amor
Você é livre pra escolher qualquer opção
nessa questão de múltipla escolha."
Natália Carneiro
Mas você insistiu em fazer parte da minha vida
Eu sabia que ia terminar assim
Cada um pro seu lado, como sempre
Eu sei que não foi culpa sua
Mas eu posso garantir, que culpa minha não foi
Eu tentei até o fim
Te mostrar que você podia ser o melhor pra mim
Você nunca levou a sério o que eu te dizia
Se tivesse levado, com certeza seria mais feliz agora
Mas a vida é feita de escolhas, não é verdade?
Você fez as suas e eu as acatei
Agora é cada um pro seu lado
E aquela típica frase: seja feliz, meu amigo
No fundo, eu sempre soube que não fomos feitos um pro outro
Sou emocional, misturo amor e sexo
Meu dicernimento é péssimo
Talvez tenha sido melhor assim
Eu confesso que às vezes sinto falta de você
Mas eu sinto falta de outras coisas que também não voltam mais
Então, você é só mais um delas
E eu tolero, muito bem
Eu só preciso que você nunca esqueça
Que por algum momento eu quis
Sim, eu quis salvar seu lado podre e necrosado
Mas se você quis morrer pra mim
É questão de escolha, meu amor
Você é livre pra escolher qualquer opção
nessa questão de múltipla escolha."
Natália Carneiro
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Perdão
"Me perdoa por todo mal que te fiz.
Por todas as vezes que recusei seus convites de ir ao cinema, todas as vezes que não retornei suas mensagens e ligações, todas as vezes que fui rude contigo.
Me sinto meio perdida agora. Nunca tinha me ocorrido de desejar quem, um dia na vida, já esnobei.
E tem hora que me bate um medo, porque parece que pra você tanto faz, agora. Como se tudo aquilo que você sentia por mim até uns meses atrás tivesse se diluído pelo simples fato de ter surgido interesse da minha parte.
Eu sinto falta de nós dois na escada do meu prédio. Do meu telefone tocar e eu ver teu nome no visor. Sinto falta do teu jeito de me olhar, como espectador. Sempre esperando meu próximo furo, minha próxima mancada. Como se, a qualquer momento, eu pudesse te ferir de novo, te apunhalar pelas costas. Sinto falta da tua mão grande, me fazendo o carinho mais delicado. Do teu interesse nas besteiras do meu cotidiano, da tua preocupação com as minhas aventuras. Do teu beijo e do teu telefone que nunca parava de tocar.
Esse texto é uma forma de te pedir perdão.
Perdão por tudo que te fiz.
Parece que já é tarde pra recuperarmos aquele tempo perdido. Parece que já é tarde pra que eu mude de idéia. Mas acho que ainda dá tempo de te pedir desculpas. "
Natália Carneiro
Por todas as vezes que recusei seus convites de ir ao cinema, todas as vezes que não retornei suas mensagens e ligações, todas as vezes que fui rude contigo.
Me sinto meio perdida agora. Nunca tinha me ocorrido de desejar quem, um dia na vida, já esnobei.
E tem hora que me bate um medo, porque parece que pra você tanto faz, agora. Como se tudo aquilo que você sentia por mim até uns meses atrás tivesse se diluído pelo simples fato de ter surgido interesse da minha parte.
Eu sinto falta de nós dois na escada do meu prédio. Do meu telefone tocar e eu ver teu nome no visor. Sinto falta do teu jeito de me olhar, como espectador. Sempre esperando meu próximo furo, minha próxima mancada. Como se, a qualquer momento, eu pudesse te ferir de novo, te apunhalar pelas costas. Sinto falta da tua mão grande, me fazendo o carinho mais delicado. Do teu interesse nas besteiras do meu cotidiano, da tua preocupação com as minhas aventuras. Do teu beijo e do teu telefone que nunca parava de tocar.
Esse texto é uma forma de te pedir perdão.
Perdão por tudo que te fiz.
Parece que já é tarde pra recuperarmos aquele tempo perdido. Parece que já é tarde pra que eu mude de idéia. Mas acho que ainda dá tempo de te pedir desculpas. "
Natália Carneiro
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Renúncia
"Renunciar a algo que amamos muito e que desejamos com toda a força do coração é uma das decisões mais cruéis de se tomar que conheço. Porque a perda equivale a uma morte dupla: morrer para alguém e matar a pessoa na gente. É como se sobrasse por dentro apenas um casarão vazio com um jardim morto. E, de repente, tudo tão subitamente anoitecido sem previsões de dia novo. É um caminhar lento e arrastado numa espera sombria de que as horas passem e o tempo leve essa febre alta sem medicação possível.
É preciso que haja tanta paciência e firmeza por dentro pra não entrar em desespero, que a sensação que se tem é de estar meio fora do ar, com tanto esforço. E até chorar fica difícil, teme-se que nunca mais o choro cesse.
Há muitas perdas quando se termina algo que não se queria ter terminado: muda-se a auto-imagem, alegrias ficam suspensas, sonhos desaparecem por um tempo e nenhuma cor na paisagem. O cotidiano fica obscurecido por aquela lacuna aberta no meio do que era a parte mais interessante dos dias.
Com o tempo, você analisa que abrir mão de algo muito importante, só se faz quando se tem um motivo maior que esse algo: seja um propósito, uma crença, um valor íntimo, uma obstinação qualquer que te oriente para essa escolha que já se sabia tão dolorosa. É um sacrifico voluntário por algo mais pleno, mais grandioso em Beleza. E, nestas análises, você descobre outras perdas que são positivas: perde-se também a ansiedade, a insegurança e a ilusão. E você aprende a recomeçar agradecendo por vitórias tão pequenininhas...
Como quando é noite e antes de dormir você se enche de gratidão:
“Deus, obrigada, porque é noite e eu tenho o sono... Que venha um sonho novo, então.”
Marla de Queiroz
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By the way
"A gente se pega nas horas do dia em que não há merda nenhuma pra fazer, mas eu sempre te sonho pra ocupar a hora dos meus compromissos mais chatos; a gente se tem escondido, mas nas freqüentes horas de descontrole do meu ego eu quero gritar e desfilar você bem alto, pra todo mundo ver.
Eu quero sentir que eu faço diferença pra você, e depois virar as costas e sair andando porque aí eu vou estar cultivando a imagem de despretensiosa e desligada que eu demorei tanto pra fazer você acreditar; que demorou tanto pra que, eu mesma, acreditasse. Eu forço meu coração sem emoções pra emocionar você; eu faço cara de dor e tento ver se você sofre, pra ver se vale à pena. Mas não vale, porque eu mesma não valho às vezes.
Eu te quero só pra mim, mas Deus sabe que há muitos dias em que eu não quero ser só sua. Deus também sabe que eu sou atéa o suficiente pra não merecer essa sua barriga que é tão sensível às minhas unhas de carinhos repetidos. Eu quero prestar atenção em cada detalhe da sua presença pra que eu possa sofrer depois, eu quero criar uma história que não existe e contar pra todo mundo com um toque de conto de fadas, eu quero fingir que não me predispuz a ser somente sua amiga e agora estou na dúvida.
Eu não queria sofrer por antecipação e, menos ainda, me sentir emocionalmente burra e tão vulnerável aos meus próprios caprichos bobos. Queria que ela não tivesse cabelo liso e que não tivesse conseguido implantar em você a sementinha do amorzinho perfeito, que não existe, mas que a gente cisma em acreditar (ainda mais quando há um continente e muitas expectativas de distância entre as pessoas). Queria que fosse mais fácil não pensar nos "talvez" e continuar vivendo o momento com o gozo à flor da pele e as emoções maquiadas pra caralho, como foi até agora.
Ah, e à propósito não, eu não estou, ainda, apaixonada por você."
Rani Ghazzaoui
Eu quero sentir que eu faço diferença pra você, e depois virar as costas e sair andando porque aí eu vou estar cultivando a imagem de despretensiosa e desligada que eu demorei tanto pra fazer você acreditar; que demorou tanto pra que, eu mesma, acreditasse. Eu forço meu coração sem emoções pra emocionar você; eu faço cara de dor e tento ver se você sofre, pra ver se vale à pena. Mas não vale, porque eu mesma não valho às vezes.
Eu te quero só pra mim, mas Deus sabe que há muitos dias em que eu não quero ser só sua. Deus também sabe que eu sou atéa o suficiente pra não merecer essa sua barriga que é tão sensível às minhas unhas de carinhos repetidos. Eu quero prestar atenção em cada detalhe da sua presença pra que eu possa sofrer depois, eu quero criar uma história que não existe e contar pra todo mundo com um toque de conto de fadas, eu quero fingir que não me predispuz a ser somente sua amiga e agora estou na dúvida.
Eu não queria sofrer por antecipação e, menos ainda, me sentir emocionalmente burra e tão vulnerável aos meus próprios caprichos bobos. Queria que ela não tivesse cabelo liso e que não tivesse conseguido implantar em você a sementinha do amorzinho perfeito, que não existe, mas que a gente cisma em acreditar (ainda mais quando há um continente e muitas expectativas de distância entre as pessoas). Queria que fosse mais fácil não pensar nos "talvez" e continuar vivendo o momento com o gozo à flor da pele e as emoções maquiadas pra caralho, como foi até agora.
Ah, e à propósito não, eu não estou, ainda, apaixonada por você."
Rani Ghazzaoui
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Agora em Silêncio
"Sabe, acho que ninguém vai entender. Ou se entender não vai aprovar. Existe em nossa época um paradigma que diz: enquanto você me der carinho e cuidar de mim, eu vou amar você. Então, eu troco o meu amor por um punhado de boas ações. Isso a gente aprende desde a infância: se você for um bom menino, eu vou lhe dar um chocolate. Parece que ninguém é amado simplesmente pelo que é, por existir no mundo do jeito que for, mas pelo que faz em troca desse amor. E quando alguém, por alguma razão muito íntima, corre para bem longe de você? A maioria das pessoas aperta um botão de desliga-amor, acionado pelo medo e sentimentos de abandono, e corre em direção aos braços mais quentinhos. E a história se repete: enquanto você fizer coisas por mim ou for assim eu vou amar você e ficar ao seu lado porque eu tenho de me amar em primeiro lugar. Mas que espécie de amor é esse? Na minha opinião, é um amor que não serve nem a si mesmo e nem ao outro.
Eu também tenho medo, dragões aterrorizantes que atacam de quando em quando, mas eu não acredito em nada disso. Quando eu saí de uma importante depressão, eu disse a mim mesma que o mundo no qual eu acreditava deveria existir em algum lugar do planeta. Nem se fosse apenas dentro de mim… Mesmo se ele não existisse em canto algum, se eu, pelo menos, pudesse construi-lo em mim, como um templo das coisas mais bonitas em que eu acredito, o mundo seria sim bonito e doce, o mundo seria cheio de amor, e eu nunca mais ficaria doente. E, nesse mundo, ninguém precisa trocar amor por coisa alguma porque ele brota sozinho entre os dedos da mão e se alimenta do respirar, do contemplar o céu, do fechar os olhos na ventania e abrir os braços antes da chuva. Nesse mundo, as pessoas nunca se abandonam. Elas nunca vão embora porque a gente não foi um bom menino. Ou porque a gente ficou com os braços tão fraquinhos que não consegue mais abraçar e estar perto. Mesmo quando o outro vai embora, a gente não vai. A gente fica e faz um jardim, qualquer coisa para ocupar o tempo, um banco de almofadas coloridas, e pede aos passarinhos não sujarem ali porque aquele é o banco do nosso amor, do nosso grande amigo. Para que ele saiba que, em qualquer tempo, em qualquer lugar, daqui a não sei quantos anos, ele pode simplesmente voltar, sem mais explicações, para olhar o céu de mãos dadas.
No mundo de cá, as relações se dão na superfície. Eu fico sobre uma pedra no rio e, enquanto você estiver na outra, saudável, amoroso e alto-astral, nós nos amamos. Se você afundar, eu não mergulho para te dar a mão, eu pulo para outra pedra e começo outra relação superficial. Mas o que pode ser mais arrebatador nesse mundo do que o encontro entre duas pessoas? Para mim, reside aí todo o mistério da vida, a intenção mais genuína de um abraço. Encontrar alguém para encostar a ponta dos dedos no fundo do rio – é o máximo de encontro que pode existir, não mais que isso, nem mesmo no sexo. Encostar a ponta dos dedos no fundo do rio. E isso não é nada fácil, porque existem os dragões do abandono querendo, a todo instante, abocanhar os nossos braços e o nosso juízo. Mas se eu não atravessar isso agora, a minha escrita será uma grande mentira, as minhas histórias serão todas mentiras, o meu livrinho será uma grande mentira porque neles o que impera mais que tudo é a lealdade, feito um Sancho Pança atrás do seu louco Dom Quixote. É a certeza de existir um lugar, em algum canto do mundo, onde a gente é acolhido por um grande amigo. É por isso que eu tenho de ir. E porque eu não quero passar a minha existência pulando de pedra em pedra, tomando atalhos de relações humanas. Eu vou mergulhar com o meu amigo, ainda que eu tenha de ficar em silêncio, a cem metros de distância. Eu e o meu boneco de infância, porque no meu mundo a gente não abandona sequer os bonecos que foram nossos amigos um dia.
Agora em silêncio, ensinando dragões a nadar."
Rita Apoena
Eu também tenho medo, dragões aterrorizantes que atacam de quando em quando, mas eu não acredito em nada disso. Quando eu saí de uma importante depressão, eu disse a mim mesma que o mundo no qual eu acreditava deveria existir em algum lugar do planeta. Nem se fosse apenas dentro de mim… Mesmo se ele não existisse em canto algum, se eu, pelo menos, pudesse construi-lo em mim, como um templo das coisas mais bonitas em que eu acredito, o mundo seria sim bonito e doce, o mundo seria cheio de amor, e eu nunca mais ficaria doente. E, nesse mundo, ninguém precisa trocar amor por coisa alguma porque ele brota sozinho entre os dedos da mão e se alimenta do respirar, do contemplar o céu, do fechar os olhos na ventania e abrir os braços antes da chuva. Nesse mundo, as pessoas nunca se abandonam. Elas nunca vão embora porque a gente não foi um bom menino. Ou porque a gente ficou com os braços tão fraquinhos que não consegue mais abraçar e estar perto. Mesmo quando o outro vai embora, a gente não vai. A gente fica e faz um jardim, qualquer coisa para ocupar o tempo, um banco de almofadas coloridas, e pede aos passarinhos não sujarem ali porque aquele é o banco do nosso amor, do nosso grande amigo. Para que ele saiba que, em qualquer tempo, em qualquer lugar, daqui a não sei quantos anos, ele pode simplesmente voltar, sem mais explicações, para olhar o céu de mãos dadas.
No mundo de cá, as relações se dão na superfície. Eu fico sobre uma pedra no rio e, enquanto você estiver na outra, saudável, amoroso e alto-astral, nós nos amamos. Se você afundar, eu não mergulho para te dar a mão, eu pulo para outra pedra e começo outra relação superficial. Mas o que pode ser mais arrebatador nesse mundo do que o encontro entre duas pessoas? Para mim, reside aí todo o mistério da vida, a intenção mais genuína de um abraço. Encontrar alguém para encostar a ponta dos dedos no fundo do rio – é o máximo de encontro que pode existir, não mais que isso, nem mesmo no sexo. Encostar a ponta dos dedos no fundo do rio. E isso não é nada fácil, porque existem os dragões do abandono querendo, a todo instante, abocanhar os nossos braços e o nosso juízo. Mas se eu não atravessar isso agora, a minha escrita será uma grande mentira, as minhas histórias serão todas mentiras, o meu livrinho será uma grande mentira porque neles o que impera mais que tudo é a lealdade, feito um Sancho Pança atrás do seu louco Dom Quixote. É a certeza de existir um lugar, em algum canto do mundo, onde a gente é acolhido por um grande amigo. É por isso que eu tenho de ir. E porque eu não quero passar a minha existência pulando de pedra em pedra, tomando atalhos de relações humanas. Eu vou mergulhar com o meu amigo, ainda que eu tenha de ficar em silêncio, a cem metros de distância. Eu e o meu boneco de infância, porque no meu mundo a gente não abandona sequer os bonecos que foram nossos amigos um dia.
Agora em silêncio, ensinando dragões a nadar."
Rita Apoena
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Rita Apoena
Medo
A vida toca meus braços e eu não tenho vontade de deixar ela passar. O frio lá fora congela os cadáveres do meu passado e aqui dentro não poderia estar mais quente esperando o bebê da vida nova. Posso estar louca, e inconseqüente, e imatura, e impulsiva, e hiperbólica, e atirada, e infantil; posso estar fingindo, estar forçando, estar idealizando, estar correndo por algo que não me deu segurança nenhuma. Eu posso até achar que esse sentimento bom não existe fora da minha cabeça de garota interrompida, mas eu não vou deixar que nenhuma receita de amor que nunca funcionou leve você de mim dessa vez. "
Rani Ghazzaoui
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