segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Mulher de 30


Cibele Santos

Eu vim aqui me buscar

"Eu vim aqui me buscar. E aqui parecia ser longe, muito longe do lugar onde eu estava, o medo costuma ver as distâncias com lente de aumento. Vim aqui me buscar porque a insatisfação me perguntava incontáveis vezes o que eu iria fazer para transformá-la e chegou um momento em que eu não consegui mais lhe dizer simplesmente que eu não sabia. Vim aqui me buscar porque cansei de fazer de conta que eu não tinha nenhuma responsabilidade com relação ao padrão repetitivo da maioria das circunstâncias difíceis que eu vivenciava. Vim aqui me buscar porque a vida se tornou tediosa demais. Opaca demais. Cansativa demais. Encolhida.



Vim aqui me buscar porque, para onde quer que eu olhasse, eu não me encontrava. Porque sentia uma saudade tão grande que chegava a doer e, embora persistisse em acreditar que ela reclamava de outras ausências, a verdade é que o tempo inteirinho ela falava da minha falta de mim. Vim aqui me buscar porque percebi que estava muito distante e que a prioridade era eu me trazer de volta. Isso, se quisesse experimentar contentamento. Se quisesse criar espaço, depois de tanto aperto. Se quisesse sentir o conforto bom da leveza, depois de tanto peso suportado. Se quisesse crescer no amor.


Vim aqui me buscar, com medo e coragem. Com toda a entrega que me era possível. Com a humildade de quem descobre se conhecer menos do que supunha e com o claro propósito de se conhecer mais. Vim aqui me buscar para varrer entulhos. Passar a limpo alguns rascunhos. Resgatar o viço do olhar. Trocar de bem com a vida. Rir com Deus, outra vez. Vim aqui me buscar para não me contentar com a mesmice. Para dizer minhas flores. Para não me surpreender ao me flagrar feliz. Para ser parecida comigo. Para me sentir em casa, de novo.


Vim aqui me buscar. Aqui, no meu coração."


Ana Jácomo

É tanta falta

"Vamos no atrasar. Por causa da chuva, por causa da preguiça. Sem culpa. Tem um mundo todo de gente lá fora que pouco importa. O carro bem poderia ter quebrado, ninguém vai saber se a gente não contar. Vamos nos atrasar por querer mais de nós dois.
Fica mais um pouco e me deixa fazer parte da sua história. Quero o seu dia-a-dia na minha rotina e seu colo pra dormir. Quero nossos assuntos em pauta e nossa falta fazendo companhia. Eu quero mais que solidão a dois e inseguranças tristes para preencher cotidiano. Mais que sorrisos inconvicentes e quase amizades convenientes. Eu quero menos. Menos pensamento, menos dúvida. Um equilíbrio e você de brinde.
Vamos nos atrasar, deixar o mundo acontecer do outro lado da porta enquanto a gente discute desenhos animados na cozinha e faz comida para o jantar. Esqueça a música alta, esqueça as pessoas e seus cumprimentos tediosos, é sábado, deixa pra lá. Tudo o que a gente precisa está aqui. Tem eu, tem você, tem uma madrugada inteira de nós dois. E isso é tudo. "

Verônica H.

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Mulher de 30


Cibele Santos

sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

Tédio



"O tempo não corre: flutua pelos minutos num ritmo enlouquecedor de relógio sádico, como se esperasse meu limite pessoal.

As unhas roídas, a insônia, tédio.
A tv ignorada brilha o reflexo na janela contrastando o escuro que toma o resto do quarto. O frio amortece os pés descalços sob o cobertor e a chuva no vidro briga com o volume da televisão.
A tv sem público, as conversas com o cachorro, tédio.
O psiquiatra diz que não é nada, é só tédio.
O tédio que te aguarda, em cada espaço vazio do dia.
O tédio que te segura, em cada momento perdido de ocupação.
São onze horas e o ponteiro do relógio faz questão de me lembrar em cada batida.
TÉDIO. Cinco letras de angústia. Estado de espírito ou substantivo? Não é nada, só tédio."

Verônica H

segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

Mulher de 30



O que querem as mulheres?

"Desde que o mundo é mundo, nós mulheres tentamos entender os homens. Tentamos minimizar as diferenças descobrindo o que se passa na cabeça desses outros seres tão diferentes da gente. Na maioria das vezes, caímos em estereótipos do tipo “homem é assim”, “mulher é assado” e limitamos toda a humanidade dentro das nossas próprias percepções do mundo. Como se nossa percepção fosse única e absoluta.

Eu ando treinando o “desestereótipo”. Treinando ver o mundo de outra forma. Explico: não é porque eu comi uma maçã podre do pacote que todas estão podres (como eu achava até então). Ando tentando ouvir com menos atenção os casos corriqueiros de homens cafajestes e dando mais importância aos raros casos de homens do bem. Sim, eles existem. E quando minhas amigas começam com “ah, é porque homem é assim mesmo” eu ligo o mute interno e começo a pensar na lista de maquiagens que quero adquirir no momento. Não, gente, homem não é “assim mesmo” e eu cansei de engolir esse papo. Tem mulher pirigueti, tem mulher do bem. Tem homem babaca e tem homem do bem. É exceção? Pode ser. Mas existe. O grande lance é que não dá pra julgar por antecipação. Aquele cidadão bom moço pode te decepcionar e aquele outro que você não dava nada por ele pode te surpreender.
E enquanto nós, mulheres, não entendemos os homens (e nem eles entendem a gente), acho que deveríamos ser mais claras no que queremos, ao invés de fazer joguinho. Grande parte dos homens não tem criatividade ou sequer paciência pra ficar decifrando nossos códigos. Ao contrário da gente que acha que tudo que eles falam são códigos secretos e querem dizer muito mais do que o que foi dito. (Eu já superei essa fase da interpretação faz tempo, mas tenho amiga que interpreta cada palavra que o cidadão fala).
Ainda vamos demorar pra decifrar o que os homens querem. Mas entender o que nós queremos não é nem um pouco complicado se eles prestarem atenção. Não queremos anel de brilhante. Um anelzinho de papel de bala feito na hora resolve nosso problema. Não queremos dormir num palácio, só queremos deitar a cabeça num ombro que nos acolha. Não queremos a presença física o tempo todo, mas queremos saber com quem podemos contar se precisarmos. Não queremos a senha do email, mas queremos alguém em quem possamos confiar de verdade. Não queremos vigiar o celular, mas queremos alguém que não nos surpreenda com telefonemas suspeitos. Queremos alguém com quem possamos passar nosso aniversário. Passar o Natal. O reveillon. A vida. Queremos alguém que nos inclua nos planos, ainda que esse plano seja apenas a comemoração de alguma coisa banal. Queremos alguém pra quem não tenhamos que contar nada, pois esse alguém simplesmente sabe porque faz parte da nossa vida. Queremos alguém cuja prioridade é a própria vida, porém a própria vida nos inclui. O que nós, mulheres, queremos é tão simples que esse texto nem precisaria existir pra explicar isso. Tão simples que parece tão óbvio. Mas não é. Ainda existem homens que ignoram o básico. Alguns. Não são todos. Porque, como eu estava dizendo, os homens não são todos iguais."
 
Brena Braz

CASA, COMIDA E CAFÉ COADO

“Por isso que esses moços de hoje não querem se casar. Essas moças de hoje não sabem coar um café”. E de repente, anos e anos de indagação se resolviam de uma forma simples e objetiva. Meu avô acabava de pronunciar a sábia frase que respondia a grande questão que assola o universo feminino. E, sabe de uma coisa? Se pararmos pra pensar, meu avô está certo.

Antigamente casamento tinha um outro sentido. Na época dos meus avós, casamento era pra sempre. A mulher parava de trabalhar, de estudar ou de fazer qualquer coisa que fosse, pra se casar e virar esposa. Não havia outro sentido pra vida que não fosse aquele. Ser mãe e esposa. E era por isso que os homens se casavam. Pra ter quem cuidasse da casa enquanto eles trabalhavam pra sustentar a família. A mulher ficava em casa “coando café” e cuidando dos filhos enquanto o marido saía. Pra trabalhar ou pra sei lá o que fosse.
Até que um belo dia, a mulher plantou o pé no saco de café e resolveu sair de casa pra trabalhar. E se fudeu. A mulher passou a ter que trabalhar, cuidar dos filhos, cuidar da casa. E coar o café. Só que agora, o café é pra ela. O homem ficou meio perdido no meio dessa história. E o casamento como conhecíamos perdeu a razão de existir.
No fundo, bem lá no fundo, eu acredito que todo homem pensa que “Amélia é que era mulher de verdade”. E que a esposa ideal é aquela meio burrinha que acredita que a marca de batom na camisa é molho de tomate. Aquela que acha lindo quando ele diz que chegou às onze em casa porque estava numa reunião (mesmo não entendendo o cheiro de cerveja e perfume barato no sujeito). Um cidadão uma vez me disse que “mulher feliz é mulher ignorante”. É meio que isso. Aquelas tapadas que acreditam no molho de tomate na camisa.
Uns cinco ou seis anos atrás, li numa Veja uma pesquisa que dizia mais ou menos a mesma coisa. Que os casamentos que davam mais certo eram aqueles entre homens com QI mais alto com mulheres com QI mais baixo. Não só o QI, mas escolaridade, classe social e alguns quesitos do tipo contavam. Em resumo: casamento que dá certo é aquele em que um bonzão-fodão se casa com uma anta-tapada. Ou seja, um cidadão muito foderástico com uma topeira total tem chance de ficar anos e anos casados. Um cidadão foderástico com uma cidadã igualmente foderástica, as chances de dar certo são tipo nulas. Acontece que as antas e topeiras estão cada vez mais perto de entrar em extinção. E o casamento idem.
Existem ainda aquelas que se fazem de sonsas pra manter o casamento, mas de sonsa não têm nada. Não sei. Eu não teria tanto sangue frio. E acho que comigo não funcionaria. Ao primeiro sinal que me desagradasse, a casa ia cair. Nunca me imagino casada cuidando de filho enquanto meu marido passa o final de semana na rua. Sabe as chances disso? Nulas. Negativas. Zero. Tenho dó de quem vive isso. De verdade mesmo que tenho. Acho que ninguém consegue ser feliz assim. O casamento feliz hoje tem um novo conceito. A mulher deixou de ser aquela que fica em casa coando o café e passou a ser companheira do homem. E nem todo homem entendeu isso ainda. A maioria ainda procura a Amélia. A ignorante feliz. Tenho um pouco de dó. Dos homens, claro. Porque eles estão procurando uma coisa difícil de se achar hoje em dia. Melhor comprarem um coador de café logo.

Brena Braz

Crônica de Ano Novo

“Mil simpatias a espera de um milhão de milagres.

Veste-se branco para paz, amarelo para dinheiro,
verde para não-sei-o quê, e eu fico a me perguntar:
Qual será a cor de dentro? Que cor a alma está vestindo?
Essa alma que algo errado deve de ter, para esperar uma data especial
para ter esperança de mudar, de agir, de buscar.
Faz-se lista de resoluções para o próximo ano!
Geralmente, sonhos empurrados com a barriga para um tempo seguinte, por pura preguiça de batalha.
FÉ? sim. A fé move montanhas meu caro, se você estiver rezando e empurrando a montanha.
Um minuto de silêncio. Analise seu ano até agora.
Você consegue definir seu sonho? Pense.
Enquanto isso, sugiro que descubras o “novo”, do tal ano novo.
Por exemplo, será que tudo que nós cobramos, nós somos capazes de oferecer?
Tudo pode começar a mudar agora mesmo.
Comecemos olhando para o passado recente… o que foi feito deste ano?
Você fez sentido?
Sorriu com alguém? Descobriu algo novo? Trabalhou até cansar? Abraçou efusivamente?
Olhou-se no espelho? Programou uma viagem?
Se a maior parte das respostas foi um sonoro “não”, então está explicado!
Um ano novo não começa para quem não é capaz de se fazer NOVO.
Óbvio que também, nem tudo são flores. Certamente adquiriram-se contas, tiveram-se aporrirações, momentos de desespero, entre tantos outros aborrecimentos…
Mas o que a maioria encara como problema, eu chamo de vida…afinal, antes de encantar-se com o fim da viagem, deve-se curtir a estrada e seus contornos.
Volte a olhar para frente agora. Que de hoje em diante, a gente converse mais, comece a falar alto, baixo, lenta ou rapidamente. Que tenhamos noção de que ouvir é essencial.
Mas antes, é preciso dizer que se hoje somos adultos, antes disso, somos humanos e precisamos de certas doses de aventura sadia para que tudo faça sentido.
De resto, sobram as contas, as dores, as mágoas e os afazeres domésticos.
Chegou a hora de sorrir mais, escutar mais! Leia mais e escreva, escreva muito.
Um dia seus filhos vão ler e terão orgulho de tudo isso.
A propósito: Conseguiu definir seu sonho?
Já sabe o que quer fazer no próximo final de semana?
Então, se o seu sonho é ir a Amsterdam e declamar um poema em uma ponte, o que você está esperando que ainda não aprendeu a decorar. Ou se sonhas em ir a Fernando de Noronha mergulhar com os golfinhos, corra! Ainda há tempo para aprender a mergulhar.
Não existe “se der”, existe apenas “já foi!”
Esqueça de que “ser feliz” é esperança! Deixe as fitinhas, os desejos e as “mandingas” em segundo plano e projete-se. A partir de agora “viver” plenamente
deixa de ser um sonho e passa a ser, a nossa pele.

Jean-Paul Sartre já dizia que “o homem nada mais é do que aquilo que ele faz de si mesmo”.
Realizemos nossos sonhos!
Mostremos nossa garra!
Encare a vida com criatividade, sinergia e intensidade!
Mude,aconteça, seja! Seja o que bem entender.
JAMAIS VOCÊ IRÁ SE RECUPERAR DE UM ANO EM QUE SUA VIDA FEZ SENTIDO!
Se tudo muda a todo momento, um ano novo pode-se começar agora mesmo.”




Fernanda Stracioni