terça-feira, 21 de setembro de 2010

Mulher de 30


Cibele Santos

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Simplicidade Feminina

"Os homens não entendem as mulheres. Por que será? Elas são seres simples, e basta prestar um pouquinho de atenção para saber o que passa em suas mentes. Mas, como elas não costumam dizer o que sentem, e eles não costumam perguntar, permanece a incompreensão. Para começar, uma mulher precisa, acima de tudo, se sentir desejada o tempo todo.

Nada lhe agrada mais do que entrar num restaurante e sentir que todos olham para ela.
Mulher sente isso no ar, e tem mais: não é necessário que seja um homem ao qual ela dedicaria ao menos um minuto de seus pensamentos. Se uma mulher receber o galanteio de um feirante - não que eles sejam os reis da sutileza ou, aliás, por isso mesmo -, se acha o máximo.
E existem algumas que, quando estão com o moral baixo, vão dar uma volta no centro comercial da cidade, onde os homens são mais sensíveis ao charme feminino. Bem mais, seguramente, do que nos desfiles de moda.
A obrigação de um homem é desejar a mulher que está com ele. Uma amiga me contou que se encontrou com um conhecido num avião e logo depois da decolagem ele perguntou, à queima-roupa, se ela queria transar com ele.
Ela - no mínimo pelo inesperado da pergunta - nem soube o que responder.
Concluiu o cavalheiro:"Bem, eu já fiz minha obrigação, então não se fala mais nisso''. Um gênio, convenhamos.
Uma das coisas que os homens não sabem, e jamais saberão, é como agir depois da primeira transa. Vamos supor que tenha sido na casa dele. Quando ela acorda e abre os olhos, a primeira coisa em que pensa é: "Ai, meu Deus, e agora?" Levanta-se na ponta dos pés, recolhe os sapatos, a bolsa, as meias, esquece os brincos, claro, e sai de mansinho para que ele não acorde.
Nessa hora só quer chegar em casa. Depois de tomar um banho, a cabeça começa a clarear e ela não sabe se muda de cidade, só para não encontrá-lo. O telefone fica na secretária de medo que seja ele - Deus a livre. A noite chega e ela começa a ficar nervosa. Não quer vê-lo nunca mais, mas ele tinha obrigação de ligar. Mas nada. Ah, que ódio. Ela tenta justificar. Afinal, saiu sem nem deixar um bilhete. Mas, bem lá no fundo, ela não entende como, depois de tudo o que aconteceu, ele não entra porta adentro dizendo: "Eu tinha que te ver".
Pelo sim, pelo não, põe um jeans, uma camiseta e faz um rabo-de-cavalo para bancar a simplesinha se ele aparecer. Mas nada. A coisa começa a ficar preta. A não ser que ele tenha sofrido um infarto, nada explica esse silêncio. Se ele não der uma demonstração rápida de que aquela ficará como a noite mais inesquecível de sua vida, por mais moderna e liberada que ela seja, vai odiar es se homem como só uma mulher é capaz. Ao mesmo tempo, daria tudo na vida para que ele telefonasse. Afinal, charmoso ele é. Mas, como seu prazo emocional está no limite, se ele ligar vai tratá-lo como se trata um cachorro. Elas são assim.
Mas vocês, homens, ainda não aprenderam? Custa ligar? Nem que seja para dizer que ela esqueceu os brincos?"

Danuza Leão

Sobre encontrar


"Vontade de me apaixonar, de ser vencida por um olhar,

de ser roubada por uma mão que me pega na cintura,
de ver alguém me descobrindo com ar de surpresa,
de perder o raciocínio para o pensamento em alguém,
de não enxergar distância entre os dois lados da cidade,
de me arrumar por algum motivo a mais que o trabalho,
de ter disposição para encontrar músicas novas,
de ler uma poesia e saber que seria possível vivê-la,
de encontrar alguma graça em passar pelo domingo,
vontade de ser encontrada em uma multidão de vazios,
vontade de que fosse agora e para sempre.
Preciso te achar desesperadamente
e é tão pouco e quase próximo...
o que nos separa são os encontros."

Cáh Morandi

O que é amar alguém?

"Jamais soube, verdadeiramente, o que significava amar. Não o amor oferecido amigos, família—esse é fácil de distinguir, seja pela força do sangue ou pelo poder agregador da história em comum. Nunca consegui identificar os indícios da existência do amor quando o envolvido era aquele que entrava na minha vida e permanecia, mudando tantas coisas, acertando outras tão desarrumadas há tempos, adicionando complicações e prazeres. A incerteza estava sempre lá, questionando se aquilo era amor ou apenas uma sensação prolongada de satisfação que, fatalmente, acabaria. E, se acabasse, teria sido amor?

Em algum canto de mim morava a certeza tolamente romântica de que, quando se tornase realidade, ele curaria minha ansiedade inerente e instalaria a tranquilidade tão desejada, necessária. Mas isso não aconteceu. Nunca uma pessoa apaziguou meu tumulto. Então teria sido amor?
Os fatos– tão repletos de ausência de sentido em tantos momentos– que me deixam incrédula, rancorosa, triste, seriam apenas pequenos contratempos sem importância comparados ao brilho e a dimensão que a entrada do amor daria a minha vida. Alguns homens passaram por mim, mas a ocasional frustração e raiva causadas por palavras ferinas e atos escusos – e a inevitável decepção atrelada a eles– nunca deixou de me assolar. Se a presença de nenhum deles tornou insignificante minha angústia, teria sido amor?
Jamais desejei, com urgência e paixão uterinas, ter filhos com um homem nem sonhei com uma grande mesa repleta de netos, noras e genros. Também não me imaginei, idosa, ao lado dele a passear pela rua. E me senti uma sub-espécie de mulher, isolada do resto da humanidade portadora de belos desejos a longo prazo: se nunca vislumbrei esse futuro conjunto, teria sido amor?
Demorei para aprender, mas hoje compreendo o significado de amar. O meu significado. Amar alguém é curtir o correr dos dias ao lado dele, tirando, a cada oportunidade, o peso devastador das expectativas, porque é da leveza que nasce a harmonia. É sentir (e não saber—o que faz toda a diferença) que ele precisará da minha ajuda tanto quanto eu de um ombro para descansar; que o fim não mede a beleza de uma relação, assim como a morte não anula quem fomos; que nada, nem ninguém, arrancará de mim as sensações que me fazem ser quem sou (e que precisarei, sozinha, não destruí-las, mas lidar com elas); entender que a obrigação de me salvar é absolutamente minha."

Ailin Aleixo

Vitrine

"Eu exponho meus sentimentos como numa vitrine, à espera de alguém que aceite pagar o preço que nunca entra em liquidação. Mas quando vem alguém e quer me levar sem questionar a etiqueta absurda, eu só penso na futura devolução. Quero voltar pros vidros sujos, a exposição sem objetivos, ver todos os produtos indo embora e eu ficando mais uma vez. Esses rostos que me encaram, os olhos que brilham, as ilusões que se formam, as expectativas que eu deixo criarem, são minha vida. Depois disso só resta a rotina e o medo de estar perdendo a melhor parte.

Estou cansada dessa promoção de mim. Cansei de me entregar tanto e nunca me entregar por completo, de ser só a promessa, a vertigem e a decepção. E então esse cansaço que não sei se é dos outros ou de mim mesma.
Estou te mandando um aviso. Bilhete colado na porta da geladeira, telegrama, sinal de fogo, e-mail, não importa. Estou gritando seu nome na areia da praia, do alto da minha insanidade. Vem me salvar. Me leva embora. Prova que não é igual, que a compra não vai ter devolução no primeiro defeito, porque eu sou cheia deles. Me compra, me leva pra casa com tudo o que tem direito. Com medo, com mania, com falar demais e sentir de menos.
Por eu ser cheia de ter certeza de tudo, só quero alguém que me prove o contrário."

Verônica H.

Mulher de 30


Cibele Santos

terça-feira, 14 de setembro de 2010

Por Favor

"Quero te conhecer menos, mexer menos em teus objetos, em tuas gavetas, em tuas roupas.

Que seja dispensado das cartas, do que levas na bolsa, de teus filmes prediletos, de teus diários, de teus pentes, de tuas jóias em estojo de diploma, de teu escapulário da primeira comunhão, de teus blusões em fila dupla, de teus varais com as roupas ao avesso, de tuas superstições de consultar as portas de noite, de tua fobia em atender telefone, de tua ânsia em me contar as novidades, de tua loucura em me agüentar, de tua sabedoria em me acalmar, de tua facilidade em se dividir com as amigas, de tua coleção de brincos quebrados, dos álbuns de fotografias em ordem cronológica, dos clipes emendados uns nos outros no computador, dos bilhetes amarelos na geladeira, de tua compulsão em comprar presentes, de tua mania de consultar o horóscopo, dos teus quindins, de tua mania em dormir enroscada, de salgar a comida um pouco mais do que se deveria.
Não me mande mais nada. Não me dê lembranças, músicas, poemas, sapatos, isqueiros, não quero juntar esmolas de tuas coisas, não quero fazer um santuário de tuas coisas, não quero encaixotar tuas coisas, não
quero peregrinar as mãos em tuas coisas como se fosse tua mão esperando na mesa. Minha mão ossuda depende de tua pele para respirar folgas.
Tiras proveito da consciência que vou formando de ti enquanto me desinformo do mundo. Não desejo descobrir o que tocaste senão amarei muito mais do que se tivesse tocado. Não me fales "gosto daquilo" que já estarei gostando junto. Evite comentários.
Não me digas "vamos naquele restaurante" que será mais um lugar para te esperar. Não inventes deitar na grama no domingo que o sol grudará nos dentes.
Não narres aos ouvidos da cama o que podemos sentir.
Não ponhas trilha no celular, não troques as almofadas, não escolhas as toalhas e os lençóis, controla essa mania de se espalhar por tudo, de botar teu cheiro por dentro de minha boca.
Não abras mais o leite sem romper o lacre, não deixes a gaveta entreaberta, a torneira entreaberta, meu corpo entreaberto. Não reclames do que não fiz, que farei de novo para chamar tua atenção.
Não arrumes minha gravata, que me acostumarei a pedir conselhos. Não arrumes minha gola que o vento é mesmo enviesado. Quero te conhecer menos para não sofrer depois tanto tua perda.
Mas deveria ter dito isso antes."

Fabrício Carpinejar

Mulher de 30


Cibele Santos

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Frases Soltas

Serenata de Amor

"Segundo alguns psicanalistas quando se apaixona, você não se relaciona com alguém de carne e osso, mas com uma projeção criada por você mesmo; e a projeção que fazemos é a de um ser absolutamente perfeito, mas depois de um período a projeção acaba e você passa a enxergar de verdade a pessoa com quem está se relacionando. Invariavelmente, algumas virtudes do parceiro ou da parceira vão embora junto com a projeção, outras ficam. E se o que ficou de cada um for suficiente para os dois, a relação perdura, caso contrário, ninguém sabe o que faz o botãozinho ligar e iniciar uma nova projeção, mas fortes indícios apontam para um único e delicioso suspeito, o Serenata de Amor. O amor é inexplicável, mas tem umas coisas que você pode entender!"


Texto da Propaganda do Serenata de Amor.

Mulher de 30


Cibele Santos

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Já estava casado na festa de solteiro

"É fácil descasar.

Agora os casais se separam para depois discutir. Não mais discutem para se separar. Não desenvolvem a quebradeira emocional, o jogo de ameaças, as negativas falsas. Aquelas horas a fio de madrugada para desenterrar uma confidência. Não arranham os discos estacionando a agulha numa única faixa. Não provocam novos juramentos e lamentos desesperados de perdão. Surge uma infidelidade, uma frustração, a parte ofendida nem pede explicações: fecha a conta.
Abandona a casa e busca seus pertences na portaria na semana seguinte. O síndico é o padre das separações, vive consagrando divórcios. No altar, o sacerdote entrega alianças. Na portaria, o síndico entrega as chaves. O corvo não usa mais preto.
Segunda chance e repescagem são atitudes reacionárias. Moderno é virar a cara e partir para outra. Não importa se é verdade, impressões funcionam como fatos. Mesmo que sejam fatos, a vergonha de um engano supera o passado de acertos.
Sentenças como “pisou na bola” e “fez a maior mancada” bastam para explicar o sumiço. Poderá se arrepender e insistir que não terá resposta. Ninguém mais quer perder tempo com namoros. Reatar é um desperdício, é insistir no erro. Ou se acerta de primeira para sempre ou não existe reedição. Amor hoje só tem primeira impressão.
Eu percebi isso quando fui convidado para uma festa de solteiro. Esperava um trago interminável, uma loucura de som alto, os vizinhos chamando a polícia. Ansiava por uma noite animal, o apartamento abaixo como um zoológico. Seria uma data fadada ao esquecimento, para preservar os segredos. Imaginei que os padrinhos chamariam garotas de programa, que estariam nuas cobertas apenas por casacos de pele, imaginei que metade dos convidados entraria em coma alcoólico e a segunda metade dormiria no banheiro.
Mas não havia prostitutas, muito menos bagunça. Virou um churrasco de família, com pouquíssimas piadas e excessivo nervosismo. Desconfio que os presentes rezavam pelo término do encontro, antes que viesse uma surpresa desagradável e um imprevisto que despertasse os dilemas do corpo. Observavam o relógio da cozinha, apreensivos, com receio que alguém surtasse e abandonasse a sobriedade.
Incrivelmente o sogro participava do jantar. Como aprontar diabruras e taras contra a memória de sua filha? Ajudava a espetar a carne com o avental do seu time de coração. Só faltava a sogra trazer a salada.
Badalou meia-noite e o noivo ligou para a noiva para sair num bar. E os amigos dos noivos telefonaram para suas namoradas para ir junto. As mulheres pareciam que estavam de tocaia atrás da porta — chegaram tão rápido.
Foi um aquecimento para o romance, não um inferno a compensar o céu, não a desforra da cumplicidade, não a catarse final que antecipa o casamento.
Todos encontraram seus casacos na saída — antigamente ninguém achava suas meias.
Igual pasmaceira nos chás de panela. Até crianças são permitidas. Não enxergará provas sádicas entre as amigas, concursos de vexames, não se paga mais stripper para rebolar na mesa. Antes as madrinhas levavam vibradores, novidades eróticas, brincavam com os costumes, cuspiam caroços de azeitonas pelas janelas. É tudo comportado, adequado, adulto. Onde se colocou a diversão da véspera? As homenagens são escolhidas com segurança, não se fala de antigos relacionamentos e de atrapalhadas na faculdade para não gerar indiscrições. Loucas e histéricas não são convidadas, logo elas, imprescindíveis, que inflamaram as festas como DJs das gafes.
Experimenta-se um pânico moralista, vá que ele ou ela descubra intimidades e mude de ideia. Os noivos sofrem o período de delação premiada. Não arriscam troça nenhuma, acovardados em suas fantasias.
Porque é muito, muito fácil descasar"

Fabrício Carpinejar

Aquele brilho que ofusca, é mentira.

"Aquele dia eu tive medo. De verdade, de cair.

Eu despenquei no meio dos fatos porque as pernas cediam já havia um tempo. Já passavam algumas fases que a minha crença ia indo, fundindo com os atos, as conseqüências, as faltas de medida. Desmedido estava o pavor em mim, de ver você daquele jeito, bem na minha frente.
Não era falta de compreensão. Eu juro que queria entender. Havia anos que a minha vida, pra mim, era simples, líquida, transcorrente pelos meus dedos.
Ok. Não no sentido de simplicidade, não neste. Mas, pelo menos, eu sempre soube que as confusões, misturas, sensações, tumultos, revoltas, amores, bagunças, enfim, tudo existia ali por um porquê, por um - ou vários - motivos que eu mesma criei de um jeito ou de outro, agora, ontem ou depois. Por mais que estivesse difícil, eu sempre tinha estado no controle. Era eu, meu egocentrismo, o meu lado narciso e a minha coragem de estampar, pro mundo, os meus medos.
As nuvens andaram tortas e se confundiram de estação. O céu resolveu escurecer em cima das nossas cabeças mostrando que egoísmo, agora, não ia ajudar muito, não ia resolver o problema, os problemas, os lapsos de sanidade que existem nas vidas das pessoas todas. Nós fazemos parte, ao menos disso.
Eu ria, mas tremelicava toda por dentro. Eu queria chorar até alagar todas as burradas pra afundar o que foi e ser a partir dalí. Não dava. Latejava estranho por todas as partes do meu corpo os pecados que eu não cometi. Os joelhos continuavam ralados e sangrando, aquele sangue que não era meu, nem dela, mas seu. E ele precisava jorrar. E o céu já não era mais azul, era vermelho como no filme onde nada se via, de luz apagada pra sempre. Como se num minuto tivessem roubado todas as nossas certezas e só uma permanecesse. Eu continuava lutando por ela, de mãos fechadas, dentes cerrados e olhos entre abertos.
A gente não podia exergar tudo porque era a incerteza do muito que confortava de certa forma. Era o medo de um futuro errado que empurrava pra frente. Eu precisava caminhar. Certas ruas ficaram estreitas, algumas estrelas perderam o brilho. A minha música preferida já não dizia muitas coisas porque o meu conceito de amor mudou, e muito.
E eu já não quero brilhos. Percebi, só agora, que a luminosidade me cansa. É na penumbra que os medos se descobrem, se roçam e se encaixam. É na sede de querer se salvar que a gente bebe o outro, gelado ou quente, tanto faz. As sombras, que não têm feição mas sim formato, me mostraram que eu errei tanto quanto você.
Vou deitar quente no seu peito até o dia chegar, mas aí eu vou fechar as cortinas e ficar. Só mais um pouco, eu juro.
E você vai fugir de você, porque assim há de ser. Mas eu, vou estar aqui, no escurinho da sua única certeza, te esperando com o amor que eu nunca duvidei poder te dar.
Feche a porta."

Rani Ghazzaoui

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Modelo

"Desculpa minha maneira de dizer, assim, sem qualquer introdução ou motivo, mas você não mente bem. Quanto mais você tentou mostrar que não se importava comigo, mais deixou claro que toda a sua atenção da noite era pra mim.

Se dependesse de você, ficaríamos eternamente nos encarando sem chegar em lugar nenhum. Você se tornou o desafio perfeito e, confesso, sua embalagem prometia muito mais do que o produto realmente é. Fui eu quem cuidei da parte da atitude, da conversa, do momento certo. Acho muito cansativo ser responsável por tudo, então eu desisto de tentar te fazer humano. Pode seguir com sua falta de falta de vida, cheio de pose e e frases prontas.
Não vou passar dias te observando só porque você é lindo calado, não vou deixar você me cercar a noite toda e depois ir embora só porque dessa vez eu não devolvi o olhar e você ficou sem saber o que fazer. Você não sabe conversar e eu sou um poço infinito de palavras, jogadas na sua cara, mostrando que a falta de conteúdo pode sim te afetar. Era muito fácil com aquelas garotas, não? Um pouco de álcool, o que você faz da vida, vamos fugir de todo mundo. Mas e alguém de corpo e alma? Aí você desiste, porque no dia seguinte não tem mais o que falar.
No fundo eu sou de mentira, assim como você. E não é uma identidade que nos tornará real. Falta em você algum brilho, alguma individualidade, algo que te faça especial. Em mim esse brilho sobra e eu saio por aí espalhando, como se fosse bonito se perder em todo mundo só porque meu corpo não é suficiente pra me abrigar. E nós seguimos sendo nada, sendo só rosto marcante e nome fictício, enquanto você não descobre que eu leio sua insegurança e me disponho a curá-la e eu tenho preguiça de dizer.
Vou deixar você procurar em todas o que você só vai achar em mim, mas não vou te esperar. Quando você perceber, será tarde demais. Mas eu deixo você olhar, porque você é lindo calado e eu falo para um plateia inteira. Se algum dia Manequim for objeto de palco, a gente se encontra"

Verônica H.

Garfield


Jim Davis

Mulher de 30



Cibele Santos