E os dias não se abriam em meu peito, não cabiam neles o seu sol...Mas ele trocou lágrimas por suor e eu permaneci colada ao seu corpo querendo mais e mais do gozo puro e cru. Ele me dava afeto e eu não tinha como expelir nada em mim pra dar. Só tinha vontades de outro alguém, saudades de um outro amor e vontade de me enroscar no seu corpo até cair no sono e esquecer de tudo. E as unhas dos seus lençóis só me prendiam pelas noites, pelas madrugadas afora_ no dia claro eu ia embora com passos largos sem olhar pra trás.
Foi privado do melhor que havia em mim e, com a minha efemeridade, perdeu toda a disposição pro abraço. E quando ele parecia distante, eu voltava fazendo metáforas de chuva, reclamando cartas e longas conversas olhando nos olhos. Fui perdendo a graça com a minha confusão, fui enchendo seu querer de ressentimento e, se antes dançávamos lúdicos, depois ele me tomava nos braços com uma expressão dura e magoada de quem quer ir embora mas não consegue ainda.Não sei até que ponto teve que reunir forças dentro dele quando disse que não me queria mais, mas ele o fez e resistiu até quando pôde.
Nossos encontros tornaram-se escassos e esporádicos, e eu já não podia ligar de madrugada pra falar de lagartixas, planetas, desilusões ou o que quer que fosse. Ele que abria a porta pra eu entrar, trancou-se por dentro e não atendeu mais aos meus pedidos. Resistiu a todas as minhas formas de sedução e a qualquer encanto...
Um dia eu descobri que se soubesse que já gostava dele, teria feito tudo diferente. Teria compartilhado quando só eu recebia. Teria deixado meus olhos brilharem pra ele...
Eu que tinha nele a certeza de um abrigo de paz, de um abraço acolhedor, tive depois um olhar ferido e acusador em minha direção.
Ele que me quis quando eu não o queria, eu que o quero quando já não me quer.
Seguimos assim: desencontrados..."
Marla de Queiroz
0 comentários:
Postar um comentário