quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Fim.


"Quando o amor acaba? Em qual momento, segundo, em qual dos beijos a gente já não era mais a gente? Entre qual filme eu deixei de gostar de você? Será que foi no momento em que o microondas apitou dizendo que a pipoca estava pronta? Será que aquela linha na escova de dentes marcando a hora de trocar foi quem ditou o nosso fim? Se apenas eu soubesse quando isso aconteceu. O que fez de nós dois estranhos, dois mortos que jantam? A gente presta atenção na conversa da mesa ao lado. Nossos beijos são burocráticos, nosso sorriso é carimbado por uma impressão de fim. Somos o casal da pizzaria de domingo, que senta um ao lado do outro com dois copos de chopp intocados. Eu tomo banho de porta fechada, você não me pede mais livros emprestados. Sua mania de morder os lábios agora me irrita. Você olha para mim do mesmo jeito que olha a cortadora de frios na padaria. Nossos planos de futuro soam como bobagens adolescentes. Eu não levanto mais cedo que você só para escovar os dentes e dar o primeiro beijo fresco da manhã. E acho que ultimamente meu jornaleiro me conhece mais. Eu não vejo mais graça no que você fala, você não lê mais o que eu escrevo. Assim como um texto, de uma linha para outra, simplesmente acabou."

Ana Reber

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