domingo, 25 de outubro de 2009

Como água para chocolate

"Como vê, todos nós temos em nosso interior os elementos necessários para produzir fósforo. E além disso deixe-me dizer-lhe algo que nunca confiei a ninguém.

Minha avó tinha uma teoria muito interessante: dizia que ainda que nasçamos com uma caixa de fósforos em nosso interior, não podemos acendê-los sozinhos porque necessitamos, como no experimento, de oxigênio e da ajuda de uma vela. Só que neste caso o oxigênio tem provir, por exemplo, do alento da pessoa amada.

A vela pode ser qualquer tipo de alimento, música, carícia, palavra ou som que faça disparar um detonador e assim acender um dos fósforos. Por um momento nos sentimos deslumbrados por uma intensa emoção. Se produzirá em nosso interior um agradável calor que irá desaparacendo pouco a pouco conforme passe o tempo, até que venha uma nova explosão a reavivá-lo.

Cada pessoa tem de descobrir quais são seus detonadores para poder viver, pois a combustão que se produz ao acender-se um deles é o que nutre de energia a alma. Em outras palavras, esta combustão é seu alimento.

Se uma pessoa não descobre a tempo quais são seus próprios detonadores, a caixa de fósforos se umedece e já não podemos acender um só fósforo. Se isso chegar a acontecer, a alma foge de nosso corpo, caminha errante pelas trevas mais profundas tentando em vão encontrar alimento por si mesma, ignorando que só o corpo que deixou inerme, cheio de frio, é o único que podia lhe dar isso.

Se alguém sabia disso era ela. Infelizmente tinha de reconhecer que seus fósforos estavam cheios de mofo e umidade. Ninguém podia voltar a acender um só."



Laura Esquivel. Como água para chocolate. 1993. pág. 94-95

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