sexta-feira, 30 de julho de 2010

O controle remoto é meu

"A mulher assumiu a maior parte das direções da vida masculina: a filial, a amorosa, a da casa e a da empresa. Não reclamamos: o mundo está finalmente em ordem e bem mais justo. Mas não aceitamos que a mulher deseje mandar na direção de nosso mijo. É demais, é autoritarismo, é extrapolar o poder. É entrar num dos últimos redutos da masculinidade, ao lado de matar baratas. É promover a extinção da espécie.

Ela vem com um moralismo de faxineira, uma censura de governanta, explicando que é fácil mirar no vaso, que não entende o descontrole, como despejamos a mangueira para o piso, professa o desleixo e a ausência de vontade.
Claro que não entende, faz xixi sentada. Desconsidera uma experiência inacreditavelmente diferente.
Conclui que é prender firme e centrar o ângulo, que é pouca a distância, elementar como bater um pênalti, e esquece a alta taxa de desperdício dos cobradores nos campeonatos.
Muitas mães tentam evitar a sujeira e ensinam os meninos a sentar na patente. É um travestimento perigoso. Não percebem o mal que estão cometendo, gerando problemas na sexualidade dos filhos devido a uma mania de limpeza. Afetará as posições sexuais no futuro e aumentará a preguiça na busca pelo prazer.
A mulher confunde o mijo do seu parceiro com um esporte: dardo ou arco em flecha. Confia na preparação existencial, na força psicológica do exercício e do condicionamento. Falta apenas aconselhar a contratação de um personal trainer e treinador, e incitar a desenvolver o talento e competir nas olimpíadas domésticas. Ficaria estranho entrar no banheiro acompanhado, logo seu varão sairia com camisa cavada e piercing no umbigo.
Receio que instale câmera na descarga para acompanhar as investidas ou, quem sabe, crie uma autoescola de mijo, com um mínimo de 20 aulas práticas e aprovação em psicotécnico a partir de desenhos, placas e passo a passo.
Ela vive dando orientações que desse jeito não dá para continuar. Reclama da tortura de sentar na tampa úmida, do cheiro de rodoviária e recorre a uma filosofia preventiva de infecção hospitalar. Usa, inclusive, o golpe baixo de alardear que não se pensa na bunda da criança que ocupa o trono em seguida.
Por que ela não defende a limpeza depois da bagunça, em vez de insistir para que não aconteça o irremediável?
Não é que o homem distorce a pontaria quando está bêbado. Ele é naturalmente bêbado. Nasceu embriagado, amaldiçoado a segurar um misto de rojão e peteca. De repente, está mole e no meio endurece e muda a frequência da velocidade. Não há monotonia nos movimentos. Não há freio nas veias. É uma guinada abrupta no planejamento do ritmo. Os pilotos mais experientes aguentam a alternância; de qualquer forma, o balanço do final atinge a todos. A balançadinha estraga a operação até então impecável, limpa, escorreita. A saída desmoraliza o andamento higiênico da mijada. O suspiro desordenado do jato acaba impulsionando a venda dos desinfetantes. E sofre muito mais quem tem fimose ou o contrário, aquele que foi circuncidado, sem pele para conter a pressão.
Se a esposa e namorada está magoada com o caos, peça que coloque mictório no toalete. Nas situações extremas, uma banheira para não penar mais com o assunto.
Caso não funcionar, sugiro que segure um dia para descobrir o que significa. Daí acho que vai virar outra coisa e tudo continuará como está."

Fabricio Carpinejar

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