Não há o que questionar quanto ao aspecto saudável e fundamental das amizades, das celebrações, das interações sociais e dos relacionamentos amorosos. O problema começa quando passamos a depender dos outros para construirmos nossa própria identidade, ou sofremos por carência, necessidade de atenção e falta de companhia. Outro risco que corremos também é sermos tragados pela infinidade de informações, tarefas e compromissos a que somos submetidos diariamente, as posturas que temos que assumir e os papeis que precisamos representar.
Então, chega um momento em que precisamos de uma pausa para podermos nos reencontrar no meio disso tudo. Para relembrar quem somos e o que desejamos realmente, quais os nossos anseios mais profundos, onde queremos chegar, o que esperamos dos outros e de nós mesmos. E para isso precisamos ficar à sós, fazer silêncio, nos recolher um pouco.Conquistar intimidade consigo mesmo é uma das coisas mais preciosas que se pode desenvolver ao longo da vida. Trocar a sensação de ausência do outro pela presença de si mesmo. E isso não tem nada a ver com fobias sociais, reclusão dentro de casa ou isolamento nas montanhas, como os antigos eremitas, pelo contrário. Podemos fazê-lo até em doses homeopáticas, um pouquinho a cada dia, minutos que sejam, até que o desconforto desapareça e o silêncio se torne uma verdadeira fonte de autoconhecimento, nos proporcionando um incrível bem estar.
Silenciar nos permite ouvir nossos pensamentos, dialogar com eles, identificar o que são desejos genuínos de simples condicionamentos impostos a nós, tomar decisões, buscar soluções, cultivar idéias, confrontar dúvidas e medos, descobrir certezas, descartar o que já não nos serve mais, tentar saber, bem lá no fundo, do que é que precisamos fazer para satisfazer nossa alma.
Depois de um dia ou um período agitados, a necessidade de falar compulsivamente, trocar idéias, desabafar, pode até fornecer um alívio momentâneo, mas o estado de inquietação permanece e exaure a mente e as emoções. Portanto, nada como recolher-se um pouco e permitir que os últimos acontecimentos sejam processados cuidadosamente, para que os aborrecimentos e experiências difíceis possam simplesmente ser liberados, curados e descartados e as lições plenamente compreendidas e internalizadas.
Com o tempo, a mágica acontece: à medida em que nos permitimos, vez ou outra, nos recolher em nossa concha, mais nos conectamos com nosso próprio centro, nossa essência e, conseqüentemente, adquirimos uma visão mais abrangente do nosso mundo interior e, ao mesmo tempo, de nossa conexão com tudo o que é externo a nós. E essa consciência de estarmos interligados a tudo e a todos, joga fora de uma vez por todas qualquer carência de atenção e necessidade de companhia. A partir disso, nosso relacionamento com os outros e com a vida só tem a ganhar, pois se torna mais verdadeiro e maduro. Quanto mais preenchidos nos sentimos, mais temos a oferecer. E quanto mais oferecemos, mais recebemos em troca."
Flávia Penedo
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