segunda-feira, 15 de março de 2010

Iminência

"Preciso me retirar. Não para o alto de uma montanha cercada de monges budistas. Preciso me retirar de mim. Ou, melhor, preciso retirar de mim esse olor chamado iminência que me tomou por completo nos últimos tempos e me distanciou de minha essência.

Continuo sabendo onde estou e para onde quero ir, mas isto não é suficiente para que eu saiba de mim e me reconheça em cada verbo.
Ando me atirando em certos abismos por pura vaidade e isso nada tem a ver com a minha verdade de pássaro que voa por amor ao céu e não para acariciar olhares.
Tudo são fases, bem sei, mas toda fase tem sua face e a minha, neste momento, desconheço. Não sei se de dama ou menina. Não sei se de puta ou de santa. Não sei se de culpada ou inocente.
Tenho experimentado certas frutas que em nada alegram meu paladar. Tenho erguido altares para deuses que não existem e embora às vezes me pegue triste pelos cantos da casa conservo o sorriso de quem aceita sua condição de bicho.
Não sei se existo porque insisto no que acredito ou se acredito nas cousas porque insisto em existir apesar e além de.
Pressinto que meus passos estão largos demais para o tempo que habitam e embora saiba que se faz urgente parar, não consigo. Não eu sou que caminho na vastidão da noite escura, mas a iminência, com seu vestido de seda púrpura.
Por isso preciso me retirar. Me retirar de mim para vigiar aquela que caminha enquanto não durmo e que me deixa pálida com olheiras de espera.
A minha força nunca seca, pois nasce e deságua num abraço manso. Não há foice que me alcance, pedras que me prendam, nem prece que me faça outra.
Me retiro de mim, hoje, para conceber com olhos de afeto aquilo que tiver que acontecer."

Mônica Montone

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