quarta-feira, 10 de março de 2010

Homem-satélite


"Ele sempre está rondando o que é seu. Mesmo que você não veja. Ou não saiba.
Quando se tem 16 anos, o amor é lindo. Não que se torne feio aos 27, mas a gente o vai encarando com um certo sarcasmo e autocrítica, pegando jogo de cintura. O que não é de todo mau. Depois de um namorado rasgar todas as cartinhas românticas que recebi antes das dele e picotar as fotos em que aparecia qualquer ser do sexo masculino ao meu lado (nem que fosse o seu lagartixo na parede), aprendi algumas lições bem úteis. A primeira é clara: nunca deixar perto de namorados ciumentos evidências da existência de vida sexual anterior ao atual relacionamento. E nunca me empolgar e contar que almocei com meu ex-professor de inglês com quem tive um caso no colégio nem descuidar e dizer que acho o primo dele um tremendo gostoso, muito menos confessar que, sim, liguei para o Carlos quando brigamos, mas que ele é só um homem-satélite.
Entenda assim: homens-satélites são ótimos, especiais, nos elogiam, sempre estão apaixonados (mesmo tendo nos visto a última vez na nossa festa de 15 anos), salivam de felicidade quando dizemos "oi, é a fulana, tudo bem?" e ficam praticamente a vida toda na órbita, mas nunca colidem. Não, não são babacas, apenas curtem uma coisinha meio platônica. Como você, que fica olhando para aquela Ferrari toda vez que passa pela loja, pergunta o preço, toca o couro dos bancos, mesmo sabendo que nunca irá possuí-la. Desejo puro, simples assim.
Sua namorada também tem homens-satélites. Todas nós temos, por mais que nossa carinha diga "você é o único homem para quem ligo quando engordo 500 gramas e começo a chorar me achando um canhão". Mas, acredite, os satélites não oferecem perigo ao namorado ou marido, no caso, a você. E não me venha dizer que isso é descaramento nosso! Não somos nós que cantamos qualquer baranga no bar depois do expediente para nos sentirmos mais seguros no mundo. Apenas precisamos de uma outra opinião de vez em quando, um outro homem - isento de qualquer obrigação amorosa - que nos diga quão lindas e interessantes somos. A questão aqui não é sexual. Sabemos que vocês estarão lá quando chegarmos em casa, prontos para o oba-oba de que tanto gostamos.
O ponto é: precisamos provar para nós mesmas que vocês (namorados e maridos) não são os únicos, mesmo sendo (ou não sendo, sei lá). Sentir a libertadora sensação de saber que, na hora em que vocês torrarem nossa paciência, teremos alguém para nos bajular até não agüentarmos mais. Saborear o poder de estar constantemente na cabeça de um homem, mesmo sem darmos notícias por meses a fio. Ou seja, brincar de Afrodite quando alguma coisa passa rasteira em nossa auto-estima.
Um dos meus satélites é um cara muito inteligente, adora Proust e Woody Allen, tem voz sexy, ama comida árabe, é romântico inveterado - enfim, tirando o fato de ter tártaro e usar meia branca, o homem perfeito. Perfeito para ser satélite. Ora, se eu namorar o homem perfeito, para quem vou telefonar quando brigar com o meu namorado? Pro mecânico? Pro dono do açougue? Isso não quer dizer que meu namorado não seja um homem especial - é óbvio que é, tanto que ocupa esse "cargo". Mas é meu namorado, e rola aquela obrigação emocional etc. etc. Talvez agora você entenda por que aquele mulherão vira e mexe te liga, mas nunca aceita o convite para uma noitada ardente na hidromassagem. Agora vocês vão dizer que isso é insegurança pura, que somos eternas menininhas precisando de elogios. É isso aí mesmo, algum problema? "

Ailin Aleixo

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