terça-feira, 9 de março de 2010
Apenas olha para mim
''Você não me conta seus desejos.
Sorri com os olhos,
com a mesma boca que mais tarde, um dia,
depois daqui, poderá me dizer: não.
Há uma espécie de heroísmo então quando estendo o braço,
alongo as mãos, abro os dedos e brota.Toco.
Perto da minha a boca se entreabre lenta, úmida,
chiclete, conhaque, vermelha, os dentes se chocam,
leve rufdo, as línguas se misturam.
Naufrago em tua boca, esqueço, mastigo tua saliva, afundo.
Escuridão e umidade, calor rijo do teu corpo contra a minha coxa,
calor rijo do meu corpo contra a tua coxa.
Amanhã não sei, não sabemos.''
Caio Fernando de Abreu
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