"Uma mulher é muito mais mulher aos 30 anos. Eis o que quero dizer: tome a mesma moça aos 20 anos e aos 30. No segundo momento ela será talvez umas sete ou oito vezes mais interessante, mais sedutora, mais irresistível do que no primeiro. Aos 30 anos, a mulher se conhece mais e é por isso muito mais autêntica, centrada, certeira - no trato consigo mesma e na relação com o seu homem. Aos 30, a mulher tem uma relação mais saudável com seu corpo. Aos 30, ela está muito mais interessada em absorver do mundo o que lhe parecer justo e útil, ignorar o que for feio e baixo astral e ser feliz o máximo que der. Se o seu homem não gostar dela do jeito que ela é, dane-se!! Uma mulher de 30 só quer quem a mereça.
Aos 30, ela sabe se vestir. Domina a arte de valorizar as partes do corpo que lhes são pontos fortes e de tornar discretas aquelas que não interessa tanto mostrar. Melhora muito a qualidade da sua escolha de sapatos e acessórios, tecidos e decotes, cores e combinações, maquiagem e corte de cabelos. A mulher de 30 só vai na boa. Gasta mais, porque tem mais dinheiro, mas, sobretudo, gasta melhor. Tem gestos mais delicados, posturas mais elegantes, é mais graciosa e temperada. O senso de propriedade e a noção de limites de uma mulher de 30 não têm termo de comparação com outra de 20. Aos 30 ela carrega um olhar muito mais matador - quando interessa matar. E que finge indiferença com muito mais competência - quando interessa repelir.
Aos 30, a mulher não é mais bobinha. Não que fique menos inconstante. Mulher que é mulher se pudesse não vestia duas vezes a mesma roupa nem acordava dois dias seguidos com o mesmo humor. Mas aos 30 ela já sabe lidar melhor com esse aspecto peculiar da sua condição feminina. E poupa - exceto quando não lhe interessa poupar - o seu homem desses altos e baixos hormonais que aos 20 a transformavam.
Aos 20, a mulher tem espinhas. Aos 30, tem pintas. Encantadoras, perfumadas trilhas de pintas. Que só sabem mesmo onde terminam uns poucos e sortudos escolhidos. (Sim: aos 20 a mulher é escolhida. Aos 30, é ela quem escolhe. Aos 20, ela é comida por alguém. Aos 30, é ela que decide para quem dar. Etc.) Com 20 ela eventualmente veste calcinhas que não lhe favorecem. E as pendura no registro do chuveiro. Aos 30, usa lingeries escolhidas a dedo. Que, sempre surpreendentes e com altíssimo poder de fogo, o seu homem nunca sabe de onde saíram. Aos 30, a mulher aprende a se perfumar na quantidade certa. E com a fragrância exata para a sua pele, para a temperatura do dia, para os tons da roupa que está usando. A mulher de 30, muito mais do que a de 20, cheira bem, dá gosto de olhar, captura os sentidos, provoca fome.
Aos 30, ela é mais natural, mais elegante, mais sábia, mais serena. Menos ansiosa, menos estabanada. Desenvolve um toque macio e quente, que sabe ser a um só tempo firme e suave. Fica tudo mais uterino, mais helênico, mais glamouroso, mais sexualmente arguto.
Aos 30, a mulher não faz mais experiências esdrúxulas. Quando ousa, no que quer que seja, costuma acertar em cheio. No jogo com os homens, já aprendeu a esgrimir no contra-ataque, construindo seus xeques-mates em silêncio. Quando dá o bote, é para liquidar a fatura. Ela sabe dominar seu parceiro sem que ele se sinta dominado. Mostra sua força na hora certa, de modo sutil. Não para exibir poder - mas exatamente para resolver tudo a seu favor antes de chegar ao ponto de precisar exibi-lo. Garante para si o que quer sem confrontos inúteis. E brinca com a sua pretensa fragilidade como uma ferramenta lúdica de prazer - seu e do seu homem. Sabiamente, goza de todas as prerrogativas da condição feminina sem ter que engolir nenhum sapo supostamente decorrente do fato de ser mulher.
Se você, leitora, anda preocupada porque não tem mais 20 anos - ou porque os têm, mas já percebeu que eles não vão durar para sempre - fique tranqüila, deixe de bobagem, desencane. Saiba que é precisamente aos 30 que o jogo começa a ficar bom."
Adriano Silva (Revista Super Interessante – 19/09/01)
terça-feira, 12 de janeiro de 2010
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