"Sou uma menina de sorte. Não porque geralmente estou no lugar certo e na hora certa, tampouco porque sou atenta as oportunidades que sorriem em minha janela mesmo quando o dia amanhece aborrecido e borrado de cinza.
Sou uma menina de sorte porque sempre me acho bonita, até quando acordo com a cara amassada e cheia de olheiras. Nunca achei que precisava emagrecer dois kilos ou que me faltavam roupas no armário.
Vivo com o dinheiro que tenho. Se tiver 5000, gasto 5000, se tiver 500, gasto 500 e se não tiver dinheiro canto debaixo do chuveiro do mesmo jeito.
Sou uma menina de sorte porque aprendi a amar os defeitos das pessoas e a me cobrar menos. Se erro, hoje, conserto amanhã, sem dramas.
Peço desculpas com a mesma facilidade que sorrio e não guardo mágoas de ninguém. Inimigos, não tenho, parto do principio de que se alguma pessoa não gosta de mim é porque ela não me entendeu e sigo meu caminho sem me importar com isso. No mais, medalhinha no pescoço e sal grosso.
Amo meu cabelo, até quando chove e ele arrepia. Acho que fica divertido, selvagem.
Os livros que ainda não li, como Grande Sertão Veredas, não me arrependo, bem sei que uma vida só não seria suficiente para ler tudo o que gostaria ou deveria.
Arrependimentos, não tenho. Eles duram o mesmo tempo que minhas mentiras: dois dias.
Não há limão que não se transforme em limonada na minha mão.
Até quando estou triste acho graça na tristeza. Escrevo poemas e fica tudo certo.
Medos, não tenho. Só de rato .
Posso passar horas num congestionamento sem me estressar, basta ter uma música no fone de ouvido que me transporto para Milão.
Sou irritadinha, mas, como sou, também, imediatista, qualquer irritação dura menos que uma chuva de verão.
Não sinto culpa, nem raiva. Se estou com raiva, grito... e logo ela passa. Se sinto culpa, lavo seu rastro com minhas lágrimas.
Sou uma menina de sorte porque tive uma avó chamada Esperança que me ensinou a dançar a tarantela e a fazer nhoque de batata.
Sou uma menina de sorte porque amo um poeta e sou amada por ele e porque, como ele, “ vejo beleza em tudo o que vejo e me alimento do que é belo”.
Sou uma menina de sorte porque como Ferreira Gullar "eu não quero ter razão eu só quero é ser feliz".
Sei, não, mas acho que sou uma menina de sorte porque me amo incondicionalmente. Quer belezura maior que essa?
Mônica Montone
sábado, 9 de janeiro de 2010
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