Noivado, sim, não entra na minha cabeça. Em priscas eras, noivado significava promessa de casamento. O namorado podia passar do portão para o sofá da sala. O relacionamento ganhava um novo status, a mão direita uma aliança e abria-se um crediário para a compra dos móveis. A data era marcada para quando o rapaz se formasse, dali a três anos. Enquanto o grande dia não chegava, o pretendente começava a estagiar com o sogro e o casal de pombinhos saía aos domingos para comer uma pizza enquanto escolhia o nome dos sete filhos que viriam a ter. Adrenalina pura.
Para meu espanto, continua-se noivando adoidado, tudo em nome da tradição e dos bons costumes. E, creio eu, para materializar as grades que o namoro, por ser uma relação mais descompromissada, não tem. Um namoro pode acabar em casamento, pode acabar em amizade, pode acabar em pancadaria, mas pode acabar. Noivado, em princípio, não pode.
Noivado é um pré-casamento. Tem festa, padrinhos, presentes e anúncio no jornal. Não se sabe se eles noivaram porque estão se gostando mais ou vão começar a se gostar mais porque noivaram, mas acredito numa tese menos romântica: os noivados não passam de uma longa despedida de solteiro, onde tudo conduz à gandaia.
"Sou noiva." Diga essas palavras mágicas a um homem que goste de desafios e ele tentará desesperadamente levá-la a um motel barato. Noivas são tentadoras. Amigas íntimas do pecado. As musas de Nelson Rodrigues. Um Convite à cantada, já que não existe melhor termômetro para um homem medir sua sedução. Fazer uma mulher trocar de namorado é fácil, mas fazê-la desistir de um casamento, uau!
"Sou noivo." Diga essas palavras mágicas e a mulherada fugirá como o diabo da cruz. Nosso desafio é outro: pegar um homem desprevenido e conduzi-lo ao altar antes que ele caia em si. Encontrar um que esteja oferecendo o pescoço à forca por livre e espontânea vontade não faz parte dos nossos fetiches. É um homem rendido.
Martha Medeiros, Julho de 1996
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