"Passou. Parou de doer, de sufocar. Parou de roubar meus instantes. Parou de me invadir junto às tardes. Parou de me querer inteira quando eu só podia ser metade. Parou de exigir que eu fizesse alguma coisa. Parou de rir de mim. Parou de me perseguir. Parou de me jogar na cara o que eu não queria saber. Parou de me querer poeta quando eu só conseguia ser cronista. Parou de me alcançar no Leblon, em frente ao mar, ou na Paulista, na mesa de um bar . Parou de gravitar em minha órbita.
Assim como quem dorme acompanhado numa noite de inverno e acorda sozinho numa manhã de verão e nem percebe a mudança de estação, despertei.
Não foi preciso abrir a janela. Não foi preciso espreguiçar. Foi preciso, apenas, perdoar. Mais que isso! Foi preciso admitir que perdi.E aquele perdão não era outra coisa senão perdão a mim mesma. No dia em que entendi isso e consegui alcançar com a ponta dos meus dedos e o som das minhas lágrimas a ilusão maior que me perseguia, passou. Sarei de uma vaidade que parecia incurável.
Mas como nunca soube dosar nada, fui envenenada pelo o antídoto que me curou - percebi que meu perdão me tornou soberana e caí nas garras da soberba e do orgulho de pertencer a mim mesma.
Curiosa a vida, não?
A vaidade que alimentava minha ilusão maior, hoje alimenta a maior de todas as ilusões: a de que pertenço a mim mesma e que mereço ser minha."
Mônica Montone
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