quarta-feira, 25 de novembro de 2009

O homem e a mulher da sua vida

"Minha cara-metade. O outro pedaço da minha laranja. O amor da minha vida. É assim que eles costumam se apresentar. Patricia é a mulher da minha vida. Ricardo é o homem da minha vida. Juntos há 25 anos. Não é uma sorte Patricia e Ricardo terem nascido no mesmo século, no mesmo país, na mesma cidade?

Fátima Bernardes é a mulher da vida de William Bonner. Edson Celulari é o homem da vida de Claudia Raia. Malu Mader é a mulher da vida de Tony Belotto. Casais bacanas, que parecem mesmo terem sido feitos uns para os outros. Mas se for verdade essa história de que existe alguém predestinado para ser nosso e nos fazer feliz, não seria uma tremenda coincidência o fato de, entre os bilhões de habitantes da Terra, termos cruzado com ele justo na casa da nossa prima?
Costumamos chamar de "homem da minha vida" ou "mulher da minha vida" o nosso primeiro amor, ou o primeiro amor que deu certo, a pessoa que, entre todas as que a gente namorou, melhor nos entendeu, mais nos completou. É o principal amor de uma vida restrita, vivida numa única cidade, num mesmo bairro, freqüentando as mesmas ruas e o mesmo clube. Um amor pinçado de uma pequena amostra do universo. Mas se tivéssemos acesso ao universo inteiro, seria esse o amor eleito?
O homem da sua vida pode estar em Macau, em Helsinque ou em Fernando de Noronha, fazendo mergulho submarino. O homem da sua vida pode ter nascido em 1886 e não estar mais entre nós. O homem da sua vida pode ser um economista, um guia turístico, um corredor de maratona. Pode ser um artista gráfico canadense de 49 anos que ainda está solteiro porque sente, dentro do peito, que ainda não conheceu a mulher da vida dele, que é você.

Você que mora em Jericoacoara, tem 24 anos, está noiva do Zé e nem morta coloca os pés num avião. A mulher da sua vida tanto pode ser uma cabeleireira da Baixada Fluminense como pode ser a Michelle Pfeifer. Como você vai saber, se não conhece uma nem outra? A mulher da sua vida pode estar ainda na barriga da mãe. Pior: pode ser essa mãe, grávida de um guitarrista e que nem sonha que você está de olho na mulher dele.
Basta de fantasia. A mulher e o homem da nossa vida é quem está à mão e nos faz feliz, mas uma pulga atrás de orelha volta e meia nos faz pensar: alguém, em algum ponto do planeta, ainda estará a nossa espera?"

Martha Medeiros, Outubro de 1998

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