Eu não sei guardar coisas. Se eu compro chocolates, como todos no mesmo dia. Detesto saber que algo me espera, quero acabar logo com aquilo. Não sei lidar com a responsabilidade da felicidade. A felicidade guardada na bolsa ou na vida. Eu tenho um homem lindo me esperando essa hora, e eu quero com todas as células do meu corpo ir ao encontro dele.
Mas eu não sei lidar com tanta felicidade, por isso estou planejando a morte dele. Estou planejando matá-lo com minha estupidez, quero que ele morra fulminado pelas minhas armas de boicote. Quero que ele perceba o quanto sou chata, ciumenta, louca e doente. E que ele enjoe logo da minha cara abatida de intensidade.
Que ele pegue logo bode do meu cansaço em viver tanto, porque vivo muito mesmo quando estou deitada olhando para um ponto fixo. É tão cansativo ser eu mesma com todos os meus medos e neuroses, e quero que ele sinta o fardo do meu peso. Morra e me liberte dessa alegria incontrolável. Você me roubou de mim mesma. E eu sou tão ciumenta que estou com ciumes de mim.
Você me tirou da minha vida incompleta. E me transformou numa completa idiota. O amor é uma doença. Eu sinto náuseas, febres, dores musculares. Eu acordo assustada no meio da noite.E esse mundo é tão novo pra mim que eu estou pequena nele, e preciso de você o tempo todo para me abraçar e dizer que está tudo bem. E quando você não está por perto, eu caio. Porque não sei nada desse mundo de alegrias e coisas bonitas.
Você não me deu saída. Você transformou todas as vozes que me davam escapatórias para outros corredores, em sons sem lábia. A nova vida que quero viver ao seu lado. Ao lado do homem que eu odeio porque nunca amei tanto. Ao lado da felicidade que eu odeio porque se ela acabar, não sei mais se consigo voltar pra casa. E nem se quero.
Era eu, entende? Era eu que me atracava com o lado errado da vida para estar sempre certa. Era eu a resposta para todas as perguntas que ninguém tem coragem de perguntar. Sim, o mundo é imperfeito, as pessoas traem, o amor não existe. Agora eu estou aqui, inconformada com o seu passado, querendo matar suas lembranças.
Com ciumes do seu silêncio porque ele está com você há mais tempo do que eu e eu tenho medo do quanto ele te consome, com ciumes do seu sono porque ele te leva do meu foco. Com raiva da sua importância porque ela me congela, com raiva do tempo que não dura para sempre quando você me olha sabendo das minhas loucuras e ainda assim me amando. Agora eu estou aqui, querendo que todos os amores do mundo durem para sempre, e que nenês nasçam, e que árvores cresçam e que garotas vagabundas não nos invejem e que os desejos das nossas sombras não nos traia.
Pode parecer maluco, mas todas as minhas súplicas para que você desista de mim, é um jeito maluco de pedir que você não desista nunca, pelo amor de Deus.
Tati Bernardi
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