domingo, 16 de agosto de 2009

Falta de Tempo

"Existe um único antídoto para a falta de tempo. Um único.

Estar apaixonado. Esquecer de si para inventar o desejo.

O desejo transforma-se no próprio tempo. Tudo é adiado.

A dispersão nos leva a reparar nas janelas, nos interruptores, nos sapatos dos colegas.

As córneas se abaixam. Nada mais tem tanto significado do que se aprontar, ensaiar e aguardar perfumado o encontro.

Passar as roupas é uma necessidade.

Os vincos são desafiados com inusitada paciência.

Depilamos a agenda. Compromissos sérios pulam de casas e horários.

Antes imutáveis, as reuniões trocam de vôo de modo nervoso.

O trabalho passa violentamente rápido.

Não há o medo de ser demitido, o medo de se proteger, o medo de repetir as relações passadas, a segurança de prever.

Cada um assume uma condição noturna, intermitente, o olhar abobado e a vontade excessiva.

A imaginação pára a escrita em um só nome.


Aconselho a quem não tem tempo: apaixone-se.

Perca a cabeça na guilhotina.

Entregue seus pés para a espuma.

Permita a cintura subir como um chafariz.

Não pense que vai dar errado.

O que pode dar errado já aconteceu antes.

Dentro do tempo. "


Fabrício Carpinejar

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